segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Djin

21/12/2105

Estou aqui.
À espera de um contato,
uma ligação,
carta, mensagem.
Para fazer o que me for requerido.
E depois sumir
(por tempos imemoriáveis)
como um gênio da lâmpada
fora da lâmpada.

Quais são seus desejos?

domingo, 29 de novembro de 2015

Starsteel

29/11/2015

Tudo calmo por entre os prédios.
O verde e os bichos fugidos,
escondidos em seus nichos,
bem longe desse reinado do tédio.
E o mundo do desejo regido
por um batimento ébrio
no fundo do peito.

Mais ou menos dor, quero mesmo amor,
com sua rima que não quer calar.
Pois se vou continuar,
que seja a despeito
desse sufrágio biológico.
Com um desprezo módico
e um descaso médico.

Where is the starman?
Arcos, discos e planos,
voadores, escusos, astrais.
Uma dieta, um romance
e atitudes normais.
Falsa sensação de bem estar.
Sem amor, beijo, abraço,
que não caia lágrima
e levante o aço!

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Filologia

18/11/2015

Em cada salto de um passo,
em cada braço de uma pegada,
muita água em jorro
e gozo em cada sacada.

Seja o brilho de um astro fosco,
seja o espinho de uma roseira,
que seja! Me veja e perceba
o íntimo de minha natureza.
Sem dar margem à dúvida:
feroz, tranquilo e selvagem.
Coragem! para viver a vida
e a morte súbita.

Nos muros, praias e curvas,
me turva um brilho conforme
ao explendor das musas.
Desse quadro não padeço.
Em seu peito amanheço,
em sua carne me aprofundo.
Me faz esquecer o mar,
me faz esquecer o mundo.

Os Morros que Morrem

18/11/2015

Os morros de pedra, volumosos,
nos olham de cima abaixo,
vendo corpos frágeis, que morrem,
que degradam sob o solo.

Sobre os morros não posso
dizer qualquer fantasia.
Mesmo que em sua pedra dura possa
ser erguida grande mata,
o morro impassível nos olha,
enquanto a gente morre, sangra e mata.

Não morra, não! Não morra!
E quando estou sobre o morro,
meus pés sentem sua pele;
minha carne, sua carne;
meu fôlego, sua brisa.
Mesmo ali, o morro me pisa,
me olha de baixo pra cima.
Me veja, morro. Me ensina
como deixar de ser água,
que sua pedra me fascina.

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Miragem

26/10/2015

Quisera ser um outro mundo,
que de mim mesmo já cansei.
Passam-se dias, meses, anos,
e o que me é sagrado
continua por ser profano;
e o que eu quero,
agora nem mais sei.
Nunca quis ser pastor,
rebanho, nem rei.
O que me espera agora,
o conforto de uma linha torta,
a quimera que me agoura
minha vida que me agora.
Do resto, nem eu sei.

Cada relação é uma fachada
e eu sou argamassa.
Queria não ter planos,
pisos, nem curvas.
O mundo real é uma traça
em meus tecidos humanos.
Eu sou uma farça.
Matéria insalobra sem gosto,
sem graça.
Queria ser nada.

Ser um nada sem corpo, sem voz,
sem reflexo de luz,
sem cordas, sem nós,
acompanhado ou a sós,
ser eu.
Eu mesmo, sem nada do que não sou.
Só assim me veriam verdadeiramente:
sem rosto, sem sombra, sem cheiro...
Queria que me amassem como eu sou,
ou me odiassem por inteiro.

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

No Raiar de Cada Dia

07/10/2015

Hoje eu senti o Sol sem ve-lo.
Abri os olhos como encantado,
chamado por um canto do dia novo.
Meu peito moço, encarnado,
apaixonado por um brilho que não via,
borbulhando pelo que sentia.
Nada como acordar com o acordar do dia.

Adoro ouvir passarinhos!
É um sinal de vida,
de prazer de que não me privo.
Eu me lembro que estou vivo
e o mundo está vivo à minha volta!
O que muito me prende e muito me solta.

De noite, um frio confuso que me arrepia.
Sinto medo da dor e do mundo;
da dor do mundo.
"Doutor, como eu posso me curar?"
Não se iluda, meu filho.
O mundo é duro e real,
e se você quiser vencer todo mal,
verá à frente um trabalho para toda vida.
Não se iluda, mas não se esqueça:
por mais impossível que pareça,
no raiar de cada dia,
ouça o novo passarinho
a cantar no ninho
e sorria.

domingo, 27 de setembro de 2015

Razão e Sensibilidade

26/09/2015

Todo dia que chego nas barcas
ouço o ranger melancólico
dos metais se atritando.
Seus riscos, seus gritos, suas marcas
da vida morta que vão levando.

A plataforma balançando
com o balanço do mar
é um choro, um gemido de tristeza
do que os seres não-vivos não podem sonhar,
mas veem estampado na natureza humana.

Eu, cá do meu lado,
encabulado que sou,
choro calado, sem lágrimas,
sem dar nenhum show de emoções,
mas por dentro sou
um milhão de cebolas cortadas,
olhos inundados, gargantas caladas,
carnes sangradas.

No frio matinal de Niterói,
pessoas agasalhadas do meu lado.
E no passeio, todo mundo deitado
em papelão; homens, mulheres, um cão
e seu vestígio de humanidade.
Camuflo minha sensibilidade
por questões de sobrevivência,
mas se ouço minha consciência,
sinto logo que meu peito dói.

Todo dia que chego nas barcas
me junto aos metais que se atritam
na plataforma. Meu rosto carrega as marcas
dos vestígios que nos indicam:
temos muitas razões para chorar.

domingo, 13 de setembro de 2015

Serata Balística

11/09/2015

Sentado sob um céu nublado
vendo as ruínas de um clichê.
O vidro escuro é um espelho
de miragens de um andarilho iludido.
As brisas de um maremoto;
o mundo de um coração partido.

A boa e velha melancolia:
o que seria de nós sem ela?
De mim eu não sei o que seria.
Um calor escaldante por dentro
e um frio cortante por fora:
nada vai ser como foi
a partir de agora!
O vento de um céu sem Lua
é o beijo de um vampiro.
Sangue caído por um brilho de outrora,
por um tempo que nunca foi;
por passos descalços
e pegadas no escuro.
Não acredito no passado.
Tampouco no futuro.

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Reflexo de Fada

02/09/2015

Há muito que não vejo mais fadas.
Mal me reconheço mais;
nesse mundo bruto, atroz,
sem seu belo brilho que me apraz,
minhas palavras estão todas contadas.

Tardo em encontrar minha paz.
Sigo um brilho difuso, confuso,
sem olhar a frente ou atrás,
mas seguindo a calmaria e a tormenta
que o mar ondulante me traz.

Procuro em todo canto,
embaixo da pedra,
no fundo do espelho,
em cada contratempo,
no meu contracanto.

Espelho, espelho, espelho,
induz meu reflexo,
conduz meu desejo.
Reflete meu corpo e me reluz.
Me conduz às nuvens; afinal,
existe alguém mais sonhador que eu?

Gnomos, duendes, fadas,
apareçam na luz do dia,
para barrar minha melancolia,
pois quero brilho forte
mesmo de mente aberta.
Vocês são feitos de mágica e palavras;
eu sou todo poesia.

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Brilho e Luz

24/08/2015

No anil rubro do céu
me disperso.
Mudo, confuso,
na sua presença desperto.
O mar me conta histórias
e eu ignoro;
me perco do mundo.
No seu olhar me demoro.
Te devoro.

Quero não querer mais nada.
Gozar o brilho do mar
e com a graça do luar
me tornar o que você quiser.
Me perder em seus labirintos,
seguir a força dos meus instintos
para te dar o bem-me-quer.

No escuro da noite,
o calor de sua presença.
Quero brilho forte
mesmo de peito aberto.
Quero ficar todo coberto;
coberto de sua luz e seu calor,
pois viver não é preciso.
Um brinde a seu amor!,
que eu quero ver só seu sorriso.

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Metropolitano

18/08/2015

Aqui vai tudo bem;
tudo estranho e solitário.
Sou um estranho no ninho
sem asas para voar.

Sem senha para a festa urbana cotidiana,
me afasto.
Reluto; confuso,
sigo o curso diário de palavras
novas em meu dicionário.
Surdo, escuto o discurso
do ethos metropolitano
e me espanto.
Me dispenso.

Louco que sou,
procuro mais árvores para conversar
e me identifico.
Fico comovido.
Amor, esperança e força:
tudo necessário.
Se o mundo é assim,
vamos andar ao contrário.

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Incendiário

03/08/2015

Fuga para longe do mundo
e para dentro dos sonhos.
Sonho de rouxinol,
de bem-te-vi
bem-te-vendo.
Bem longe de tudo que não vale nada.

O tempo passa e a velhice nos anoitece.
Até o nascer do Sol,
vermelho e incendiário,
do mundo novo que vive e revive;
da vida que dorme e acorda.
(e sonha acordada)

Fuja para longe do mundo
não fuja não.
O tempo não passa;
só muda tudo,
tudo.
Tudo mesmo.
Chega bem perto de nada que vale tudo.
Nas idas e vindas
do bem-me-quer, mal-me-quer.
Bem-te-vivindo.

Meu amor é exatamente como és.
Incendiário.
Sou selvagem como somos.
Incendiário.
Dançamos.
E dancemos mais,
de dia, de noite,
no sonhomar.

Meu mundo é exatamente como o dos outros.
Tenho tanta sede que o infinito é pouco;
não consegue me satisfazer.
Bem-me-quer, mal-me-quer,
sou uma maçã.
Prazer.

sexta-feira, 3 de julho de 2015

Refração

03/07/2015

Quando menos esperava ver, eu vi.
Na sorte da minha morte,
sem medo renasci.
Me tornei sujeito concreto,
verbo sem objeto
(direto ou indireto),
diretamente proporcional
a minha insanidade,
transcendental a minha normalidade.
Fundamental.

Ganhei asas de passarinho,
barbatanas de peixinho,
para poder nadar no ar.
Conversei com o Sol,
que me falou da vida,
e com a Lua,
versada no amor.
Convivi com estrelas
e precipitei com a chuva.

Chuva, como posso ser arco-íris?
"Venha com tudo que tiver,
seja a unidade do seu ser,
a completude de suas fases,
e se permita dividir-se;
transpareça a multiplicidade
de sua plenitude.
Multiplique-se em sua essência,
em sua realidade metamórfica.
Seja vários para ser um."

E deixei o vento me levar.
Como a areia que se vai
e transforma a duna
em uma forma sem forma.
Fui uma brisa no céu,
uma onda no mar;
Uma folha bailando em sua queda,
uma labareda bailarina em ascensão.
Fui vida.
E voltei a dormir.

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Passarinho

25/06/2015

É preciso uma vida de passarinho.
Voar por cima das cabeças,
das árvores, dos rios.
Cantar de felicidade,
amor e tristeza.
Cantar por liberdade!
Amar os sóis e os ares,
mas também amar o ninho.

Voa, voa, passarinho!
Pousa na minha mão
só para eu te ver,
mas siga seus ventos,
coma suas frutas e
semeie, plante, cuide.
Se cuide.

Canta, canta, passarinho!
Voa de peito aberto,
mas se proteja da chuva,
para suas penas não molhar demais.
Tomara que tenha firmes suas asas,
seu bico, suas patas, suas casas
de joão-de-barro.

Hay que volar!
Mais perto do Sol,
mais perto do mar!
Há muita coisa para viver,
volver, encontrar.
Cinco sentidos, sete desejos,
sabores coloridos, alucinações,
tempos perdidos e vividos.
Muitas águas, planos, sonhos,
poemas, luas,
felicidades e tristezas,
que a vida é tudo isso!

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Respira(ndo)

11/06/2015

Ai, minha dor não quer passar;
passai com suas intrigas, suas brigas,
e me deixa respirar.
Me deixa respirar!
o brilho do Sol,
o canto das fadas,
o coro das águas.
Vem me sequestrar!,
azul do mar!

Quero descansar
flutuando.
Boiar, brincar de amar
amando.
Respirar respirando.
Sentir a brisa, a Vida!
Vem me sequestrar,
azul do céu, verde do mar!

Oh wow

11/06/2015

"Oh, my dear,
come home,
my dear,
come home."
I will!
(kidnap me)
My will
is to be free
from this dream
so real
surreal.
"Oh, my love,
give me all
your love,
kiss me now,
my love,
teach me how
to love."
Oh!, Alan Turing
se envenenou.
Oh!, life is not fair;
there is no hope.

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Imersão

08/06/2015

Amo os troncos, as trocas, as trilhas,
quilômetros, metros e milhas
dos caminhos que nos contornam.
Amo os morros, os matos, as matas,
rios, cachoeiras, cascatas,
Sol, chuva, arco-íris.
Amo a felicidade,
embora conheça sua brevidade.

Amo o orvalho,
a nuvem que se forma e se esvai,
a poça que o Sol evapora,
a Lua, a fauna, a flora,
a cor do crepúsculo,
o brilho da aurora,
o lampejo íngeo da saudade.
Amo a efemeridade.

segunda-feira, 1 de junho de 2015

Sou Eu Sonho

01/06/2015

Nos olhos que me comovem
movem todas as montanhas,
sonham todas as nuvens,
dançam rodas as brisas.
Nos olhos que me comovem,
nos lances que sem falar frisas.

Nos sonhos que me comungam,
cantos.
De todos os tipos,
tantos os risos,
bravos os prantos.
Congruências,
incoerências,
verossimilhanças.
Planos.

Nos sonhos que me visam,
consequências.
Vistas num fundo multiforme,
conforme os sonhos
loucos sonhos
visões.
Vistas
de um horizonte sem fim
fundo
Me afundo
fundo
na consciência
inconsequente.
Mova-se comigo
comova-se
Mova-se
Mova-se

São tantos quantos
quantos tantos
...
Cantos.
Agudos, confusos,
obtusos.
Mova-se canto
comova-se
Comimova-se
Porque sou eu canto
Porque sou eu são
Porque sou eu sonho.

sábado, 30 de maio de 2015

Quanto um Tanto

30/05/2015

Cada vez que vejo um rosto bonito
alguma coisa me corroi por dentro.
É tanta dúvida, tanto questionamento...
Nem sei o que me atrai de fato,
ou se essa atração é mesmo fruto do meu desejo.
Às vezes me sinto programado a obedecer a um padrão,
a gostar do que me foi dito para gostar.
E agora me sinto culpado por continuar no padrão.
E agora? O que fazer?
Bate um desespero tão grande,
uma impotência,
uma sensação de estar sendo vigiado.
Dá uma vontade de não gostar de mais nada.

Como os nossos gostos são facilmente moldáveis...
Com a televisão, igreja, "bons costumes",
nossos pensamentos, morais, princípios
são mesmo nossos?
Como saber desenhar a linha do "eu"?
Como saber qual pensamento que eu tenho
é fruto do meu intelecto?
Preconceitos são tão eficientes
que viram uma espécie de instinto.
E é preciso uma vida inteira
(talvez duas)
para superar uma vida inteira
de construção do preconceito,
de lavagem cerebral.

Me leva a pensar quem sou eu,
se eu tenho tanto que não vem de mim.
E as minhas mudanças?
Como permaneço eu mesmo?
Se eu perder um braço,
ou o controle das pernas,
continuo a mesma pessoa;
mas com hormônios a mais ou a menos,
mudo meu humor e minhas ações.
Mudo meus pensamentos constantemente.
Esse ainda sou eu?
E quem eu era era eu?

Quanto de mim sou eu?

Todouniverso

30/05/2015

Já fui um filósofo em essência,
um pensador em natureza.
Já fui um amante do amor,
um ensaísta das paixões.
Já fui um solitário poeta revolucionário.
Ao menos em síntese,
já fui tanto quanto poderia ser.
(e ainda serei um tanto mais)

Hoje, temo pelo meu futuro.
O contrato social me sufoca.
O dia a dia esgota minhas forças revolucionárias.
O ódio constante esmaga meu amor poético.
E o que eu acho do amor, afinal?
Nem eu sei mais.
Já lancei meus radicalismos para todos os lados:
desde não acreditar nessa fantasia
a só acreditar numa fantasia universal.
Quase uma deidade sentimental.
Um hexagrama unicursal.
"Ame revolucionariamente!"
Só se for todomundo, todacoisa.
"Todomundodentrodevocê!"
Só se for assim.
Se for todouniverso dentro de mim.
(e algo mais)

domingo, 17 de maio de 2015

Nada me (as)Falta

17/05/2015

Por aqui anda tudo
com as pernas do outro.
Fala tudo com as palavras do outro.
Vê tudo com os olhos do outro.
Aqui é tudo diferente.
Na praia não tem contemplação.
É quase um concurso, discurso do corpo, competição,
mas ninguém para para ouvir as ondas.
Ficam lá, monologando, tadinhas.
É duro não ser escutada.

Aqui não ganho abraços diários
e carinhos singelos.
Aquele beijo no rosto de amor que não se mede.
Os encontros nas terças,
os sorrisos das quartas.
Nem o desespero praiano dos domingos.
Aqui nem sou praieiro, mas sou marinheiro só.

Às vezes fico curioso de coisa besta
só pra ter o que perguntar.
Porque saudade é um bicho que ruge,
mas não fala.
Às vezes não sei falar direito,
mas aí já não é novidade;
só tenho que achar um coqueiral
com vento e salitre pra me acolher.
Às vezes sinto falta das festas chatas
que só ia por causa das pessoas amadas.
O tempo não para, mas os fatos também não.

Sou exagerado, mas faz parte do fogo
(que não me falta)
e do ar que vai levando meus pensamentos.
Tenho muitos sonhos e pouco tempo.
E eles vêm assim, de mansinho,
e não se importam muito em saber se estou dormindo.
Eles têm seu próprio tempo.
(e sua própria voz)
Sabe aquela voz potente?
Chega assusta.

Lembro quando a Lua parecia me saudar, de noite.
E eu, educado, saudava de volta.
Ela vinha, majestosa,
espalhar seu amarelo sobre o céu;
uma poesia só dela.
Eu tinha que parar.
Quando meu caminhar era interrompido por ela,
felicidade tamanha...!
Era interrompido sem ser interrompido.
Parava de andar para flutuar.
E quando olhava pro mar?
Tem como não querer se afogar?
Era cedo, o início do novo turno, da nova voz.
Um início tão belo...
Daqui a vejo às vezes.
(às vezes não)
Tem prédio, nuvem, chuva...
O que será do meu coração
se a Lua se esconde na poluição?

Mas vamos lá, já vi o nascer do Sol
(o pôr também)
e confesso que foi magnífico.
Tem umas visões que não se repetem;
umas companhias também.
Outras coisas se repetem até demais,
e essa miséria toda dá uma tristeza sem fim.
Não adianta pedir piedade,
que pedidos não ajudam muito.
Ainda sou um felizardo:
tenho fome de vida de verdade.
De velejar.
Quero velejar.
Mas só depois da tormenta.
Mês que vem vem a calmaria,
porque não pode sempre ser aflição.

Constelações e Sonhos

16/05/2015

Quisera que as constelações tivessem voz própria.
Que não fóssemos nós a escolher sua forma,
seu nome,
seu destino,
para que elas pudessem escolher nosso destino.
Quisera que as constelações tivessem voz própria.
Para que não fosse eu a escolher sua voz,
suas falas,
seus textos.
Quisera que as constelações tivessem voz própria.

Sei como é.
Eu sei, mas não me custa sonhar.
O sonho é um reino - velho - todo novo
que fala sem ter voz.
E brilha no escuro sem ter luz.
Sei como é,
mas nem sempre saber adianta.
Nesse vagar sem fim,
no acelerar do afastamento,
tudo certo.
Porque não adianta achar o erro
nesse jogo dos infinitos erros.
O sonho é precessão.
E as constelações nos olham
com olhar de repressão.
Sei como é.

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Meio do Mato

13/05/2015

O tempo é relativo.
O espaço é psicossomático.
A comunhão espaçotemporal numa cidade grande é atroz.
Pelos caminhos asfaltados da vida,
o coração palpita em frequências anormais.
Pelas selvas acimentadas das ruas,
a mente encolhe a uma semente de vida
sem vida.
Basta de fumaça de automóvel!
Quero cheirar fumaça de fogueira!
Deslocar-me no espaço-tempo,
entrar num buraco de minhoca,
numa realidade paralela onde prevaleça a Natureza.
Quero ser a Natureza.
Uma parte do todo
e o todo de todas as partes.
Ser.
Viver plenamente como um pássaro planando no ar.
Ser.
Sentir os raios solares em minha pele
e me proteger na sombra de uma árvore.
Sentir os odores do que me entorna
e me contorna
e me completa.
Ser.
Entrar no meio do mato,
(só quando estou no mato me sinto vivo)
porque existe mato em mim.
(e eu existo no mato)
Existir.
Ser.
Cavar no meu chão um caminho intraterreno,
intrahumano,
astral,
que me leve a mim mesmo,
porque eu sou tudo.
Tudo.
Nada.
Nada há que me falte
quando chove em mim.
Quando não preciso de guarda-chuva.
Quando não uso guarda-chuva.
Chuva. Sol. Mar. Rio.
Nada a priori,
tudo a posteriori.
Tudo.
Emaranhamentos, teias, veias.
ondanuvem, plantachama
Tudo.
Dentro de mim.
Concentrar o inconcentrável
e fluir e fluir e fluir.
Até chegar ao Nada.
Melhor coisa é se sentir conectado.

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Palavras São Só Palavras

01/05/2015

O mistério da vida me interessa
Nas cadavéricas atitudes diárias,
Na exploração das forças operárias
E no ódio implícito em cada conversa.

Sufocado pelo imperativo da luta,
Chego a um estágio que me assusta,
Pois para mudar essa vida injusta
Só vejo o caminho da força bruta.

Mas antes da ação faz-se palavra
E pensamento como casulo da larva
Que metamorfosear-se-á em beleza.

Pois antes de esgotar uma vida nova,
Antes de me cavarem minha cova,
Hei de compreender minha natureza.

Não Mexa Comigo

01/05/2015

Não mexa comigo.
Sou um animal selvagem calado
que quando está em perigo
não tarda em externar o seu rugido
e dilacerar as vísceras do inimigo.

Não mexa comigo.
Sou uma serpente rastejante megera,
e se você vier mover minha pedra,
se prepare para comer sua última ceia,
pois terá meu veneno a correr em sua veia.

Não mexa comigo.
Se eu puder te dar um último aviso,
eis uma sabedoria conhecida:
vá cuidar de sua própria vida
e deixe de lado a minha, pois senão
me transfiguro num leão
e você será minha próxima refeição.

Sou um morcego negro frutífero,
mas se vier mexer comigo,
viro rapidamente vampiro
e sugo seu sangue numa só mordida:
minha única investida em sua direção.
Mexa comigo e te coloco no caixão.

quinta-feira, 30 de abril de 2015

Haiku 2

27/04/2014

太陽やー
明るい水へ
月は見る

Sol ---
para a água clara
olha a Lua 

Sol é 太陽, mas também representa Sol, enquanto representa Lua e ambos juntos representam claridade. Aqui há uma "brincadeira" entre a dicotomia complementar entre o Sol e a Lua, entre o claro e o escuro. No haiku há o Sol; e a Lua, que não deveria estar presente, vem para olhar a claridade da água, que ela não poderia ver sem o Sol. Os opostos interagem e se complementam. Yin yang.

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Supernovatômica

17/04/2015

É preciso catarse.
Explodir como fogo
e ressurgir nas cinzas em arco-íris.
Brihar o brilho do fogo-fátuo
e ressoar com o barulho da chuva.
E ser limpo, purificado
pela chuva e pelas marés.
Carregar no peito uma luz
que esverdeia as plantas;
e na testa uma flor
que vai além dos olhos.

É preciso catar-se.
Recolher do chão os pedaços caídos,
dos ares os flutuantes
e dos mares os submersos.
Reunir-se em si mesmo,
arquitetando-se,
remodelando-se
em uma única parte,
que é mais que a simples união das demais.

Como a vida.
Essa imensa construção de múltiplas peças
pulsa com a pulsação de cada uma de suas partes
e se evapora na existência como uma fumaça no ar.
A vastidão cataclísmica de sua inteireza
se manifesta em cada suspiro da natureza
e nos imensos espaços subatômicos,
como na estrutura cósmica e supramolecular.
あたたかくない

Como a vida.
Devoro-a.
Degusto todos os seus sabores,
testo meu paladar em seus gostos
e meu olfato em suas fragrâncias.
Alimento-me dela.
Como terra, como fogo, como água.
Vivo.
E viveria mais se soubesse que vivo.
Entre os vastos desertos e os oceanos infindos,
resisto.
Como uma flor do deserto.
Sou a flor da noite.
Fui o Sol da manhã.
Serei a Lua cheia.
あたたかくなかった

segunda-feira, 30 de março de 2015

Conjuntos Abstratos

29/03/2015

Sou um tanto indeterminado.
Uma comunhão das coisas (ir)racionais
e também das não-coisas.
Meu presente é estar presente
e ser (um ser).
O que me foi passado está no passado
(abstração)
e nos acontecimentos futuros
(abstração),
mas não no infinitésimo do presente,
que simplesmente é,
ainda que não o percebamos.

Como seria não ser,
ou ser fracionário?
Ou ser imaginário?
Acho que sou complexo,
porque inteiro certamente não sou.
Queria ser uma abstração,
um não-ser sendo.
Ser um paradoxo é em si um paradoxo.
Uma completude existencial,
um ouroboros ontológico.

tudo passa tudo passa tudo passa
Menos o passado.
E essa chuva que compromete meu futuro
fumega gases tragicômicos da vida.
Gases hilário-lacrimejantes.
Mas esses gases se vão, porque
tudopassatudopassatudopassa
Menos o tempo.
A não ser as horas, que vão se trocando,
e os anos, que vão se confundindo.

tudo passo tudo passo tudo passo
Mas é tanto obstáculo
que não se vê o fim da trilha.
Me sinto preso numa ilha
rodeada por água até onde vai a vista.
Acho que vou me afogar,
pra ver se o mundo marinho
me reserva outra sorte
e se meu azar é estar com os pés no chão.
Ou então vou aprender a voar.
Fazer amizade com os pássaros,
os pingos de chuva e os raios solares.
Tentar me transformar em arco-íris.
Ou vou ficar por aqui, mesmo;
molhar meus pés na água,
nadar de vez em quando
e me reconciliar com a chuva.
Chuva, molha minha alma,
para fazer escoarem minhas dores.

terça-feira, 24 de março de 2015

Astrofilia

15/09/2014

Se houvesse uma intrínseca simbologia
Em ser originário do Planeta Azul,
Viveria com minha existência em duo,
Uma harmonia sem neologia.

Mas em um planeta chamado Terra,
Como poder encontrar tanta água?
Se nada há nesse mundo além de mágoa,
Injustiça, destruição e guerra,

O que há de simbólico em sua cor?
A água representa adaptação,
Mas o ser humano só produz dor.
Para nós só vale a captação

De bens materiais. Somos de fato
Seres terrenos, terrestres. Somos cegos
Galgando nossos caminhos pelo tato
E pela clara escuridão do ego.

Como seria ser oriundo de Vênus?
Seria a existência mais marcante?
Ou a vida talvez um pouco menos
Exorbitantemente ignorante?

A Estrela d'Alva é vista do nosso céu,
Mas do lado de lá, o que pode ser visto?
Sua atmosfera é coberta por um véu,
Deixando um agridoce sabor misto:

O brilho existe, mas só pra quem vê de fora.
Qual o seu valor então para os internos?
A beleza está lá fora, agora
Respirar o ar quente dos Infernos

E discursar na ágora venusiana
Não devem ser experiências tão distantes.
Como não o é atrás de uma veneziana
Se esconder, cheirando gases constantes.

Por outro lado, ser habitante de Marte
Tampouco poderia ser mais positivo.
Pois o que seria mais propositivo,
Com esse nome, que seu estandarte

Carregar a cor e o escudo da guerra?
Terá sido esse o fim dos marcianos?
Guerras por centenas de milhares de anos?
E será esse o fim de nossa Terra?

Talvez eu esteja sendo muito exigente.
Não fosse pela humanidade, decerto
Marte não seria o nome vigente,
E ligá-lo à guerra seria incerto.

Talvez esteja olhando para o lado errado,
Pensando que a solução está n'outro mundo.
Talvez esteja meu pensamento amarrado,
Vendo na terra e no céu o que há de imundo.

Parece-me que o problema está no ser
- Mas não em qualquer um: no ser humano!
Não se pode esperar mais de um ser pro qual ter
Constitui o âmago de seu plano.

Seja Urano, Netuno, Mercúrio, Plutão,
Nem luas de Júpiter, aneis de Saturno
Poderiam iluminar a escuridão
Que envolve nosso espírito noturno.

Se o problema habita em nosso coração,
Olhar para fora não é solução,
Mas sim olhar profundamente para dentro.

Só assim saberemos não ser o centro
Nem aresta; ângulo nem lado:
Cada um saberá amar e ser amado.

quarta-feira, 18 de março de 2015

Peixinho

18/03/2015

Nesse dia, peixinho,
esqueça o que te apavora.
Seja a escuridão do crepúsculo;
seja o brilho da aurora!,
porque quem te olha de fora
te enxerga mais do que peixe:
vê uma sereia poderosa, senhora
de toda água que te contorna.

Siga seu próprio rumo, peixinho.
Não se prenda a correnteza ou corrente,
pois não te controla nenhuma serpente
e é você quem faz seu caminho.
Vá nadando como quiser:
de frente, de lado, de ré
(mas cuidado com redemoinho).

Saiba reconhecer a maré.
Seja parte de suas idas e vindas;
e que as quatro fases da Lua
(todas lindas)
representem sua fé.
Brilhe com o mar sob a Lua.
Navegue no rio lunar,
encante e se deixe encantar,
mas mantenha abertos os olhos.

Não esqueça que o mar também é cruel,
mas não deixe isso te assustar!
Enfrente tubarões ou o que precisar
e lembre que a estrela do mar
é como a estrela do céu.
Não se perca nesse jogo:
saiba que o fogo evapora a água,
mas a água apaga o fogo.

Seja tudo o que almejar:
peixe, ave, fogo, chafariz
e tudo mais que puder pensar.
Seja o brilho do luar
e ame o que quiser amar.
Seja feliz!

sexta-feira, 13 de março de 2015

Noite Macabra

12/03/2015

Em passos vagos sob a noite fria
Refaço na mente meus esforços diários,
Enquanto a noite berra o berro da orgia
De todos os seres vis imaginários.

Em que esquina vai me cruzar a estranha
Sensação do último dia chegado,
Se o terror desse dia mal acabado
Já me corroi toda e qualquer entranha?

Temo a sombra, que na noite escura vaga
Com passos invisíveis ao meu olho,
E o silêncio, essa chave sem ferrolho
Que a paz do meu caminho apaga.

Quando amanhã outra noite cair,
Verei brotar as redes da ilusão,
Soar meu último suspiro de homem são
E o semblante macabro da Lua a sorrir.

Pois nessa noite quem sairá à rua
Terá terrível garra e presa:
Verei do vampiro sua amarga destreza
E o lobisomem a uivar à Lua.

Que deixem sair esses seres tortos
Que não passaram pelo mundo e seus crivos,
Pois se nas outras noites reinam os vivos,
Na sexta-feira treze dominam os mortos.

Hipocrisia

12/03/2015

Tem dias que o universo
parece estar contra a gente.
Mas acho isso tudo muita presunção.
É prepotência demais achar que o universo
- esse nada todo -
vai perder seu tempo,
gastar sua energia
tratando de minha vida.
Nesses vinte e seis anos,
quem sou eu na idade astral?
Sou como uma célula,
que é parte do organismo,
mas morre muito mais cedo que ele.
E quando morre, não se sabe de sua morte.
Não existe velório para a célula...
Caixão, lápide, luto...
Seu nome não aparece no obituário.
É verdade que não passo de comida de verme.
Encerrarei meus poucos anos de idade astral
como uma massa fétida, repleta de gases,
devorada pelo Deus Verme.
E quando lembro que meus pesares
mais parecem histeria perto do sofrimento
que vemos tanta gente passando,
peço que o universo fique a favor dessas pessoas.
E me sinto tão podre em minhas queixas
que desejo o fim de minha existência celular,
para que minha massa fétida
tenha enfim alguma serventia.

domingo, 8 de março de 2015

Dia de Luta

08/03/2015

Eu não aguento mais sorrir,
quando eu quero é chorar.
(incoerência)
A hipocrisia tenta me calar,
mas eu não vou ficar calada,
mesmo cansada,
eu vou gritar pra poder ser escutada.
Não quero ser cão que nem morde nem ladra,
Mas ao me ver domesticada, em subemprego,
tentando ser valorizada, mas sem sossego,
eu fico mesmo é infeliz,
sem acreditar num bom futuro,
sem coragem pra enfrentar o mundo,
sem força pra pular o muro.
Então para!
A verdade que não cala
vem sussurrar em meus ouvidos,
me dar forças pra sair da vala.
Levanto os olhos para o céu,
tentando achar a salvação,
que aqui de baixo não vejo nada,
nem conto de fada, nem solução,
mas lá de cima também não.
Não!
Então me diga como eu posso
sorrir com satisfação.

Não,
não quero um dia pra mim, não.
Eu quero é liberdade, igualdade, compreensão.
Quero orgulho da minha vida, e mais satisfação.

E agora, a mentira que não cola
de que todos somos iguais.
Que brincadeira... não me enrola!
Não tô acostumada a ser enganada;
eu não sou burra, isso não rola.
Então vamos falar a verdade.
Não sou de jogar conversa fora,
falando de trivialidade,
de novela ou coca-cola.
Eu quero é mais.
Mais!
Um bom salário, um bom emprego;
quero direitos, não quero esmola.
Quero poder andar na rua
sem medo de ser estuprada
e ainda ouvir um homem falando
"Era ela que tava errada,
com aquela roupa, aquela conduta,
não era moça, era puta.",
e ainda ter que ouvir essa merda calada,
porque eu sou amordaçada
todo dia, toda hora,
pelo machismo que ainda existe,
que persiste, não foi embora.
Então para!
Não cala, não chora.
Vamos à rua, vamos à luta,
sem medo e sem demora.
É agora!
Vamos lutar para vencer!
E se eu morrer?
Não me arrependo, não dei o braço a torcer.

Não!
Não quero um dia pra mim, não.
Eu quero é liberdade, igualdade, compreensão.
Quero orgulho da minha vida e um bom futuro.
Pega a visão!

Mas não é só do nosso lado
que a corda sempre parte;
no mundo tem muito ódio
e toda sorte de covarde
que aproveita de sua condição,
de sua suposta "normalidade",
pra fazer tanta besteira,
toda forma de atrocidade
e sair ileso,
porque "é aceitável, não se abale",
mas não.
Não!
Não tenho a menor condição
de ouvir de gente assim
qualquer discurso e manifestação
de sua completa arrogância, ignorância e podridão,
quando vira para mim
e diz sem exaltação:
"Hoje eu tô meio abalado,
porque não sei o que é ser reprimido,
marginalizado, linchado,
ser julgado culpado
por um crime que não cometi,
ser acuado pela cor ou lugar onde eu nasci.
Mas hoje eu vi um mendigo no chão
(que pena).
Tava largado, comendo lixo,
enquanto eu ia pra Ipanema
pegar uma praia, pegar um sol,
mas não esquenta não, irmão,
mais tarde eu vou prum bar,
me embriagar,
esquecer a tristeza no lençol,
porque pra mim vai tudo bem.
Não preciso me incomodar,
já que nada vai me faltar,
amém."

Não!
Não quero um dia pra mim, não.
Eu quero é liberdade, igualdade, compreensão.
E distância dessa gente que cospe em quem tá no chão.

Mas o mendigo ainda tá ali,
comendo o lixo do playboy
que no outro dia já se esquece;
isso me mata, isso me dói!
Vejo minha gente acuada,
seu sangue no chão,
e não ouço sua voz.
E agora?
Onde anda nossa aurora?
O preto pobre é como um vírus
nos olhos da sociedade:
deve ser exterminado
para a "limpeza" da cidade.
A favela é invadida
por um bando de covarde
que exala morte
e muito mata.
(isso é maldade)
Com a desculpa da guerra às drogas...
Ah...!
É rir pra não chorar!
Melhor gritar, ir pra luta,
não se virar, não descansar,
porque esse mundo não tá perdido.
Não vou deixar me abalar!
E agora o quê?
Me deixa viver!
Tô preparada pro combate,
já tô cansada de sofrer.
E no final?
Aonde isso vai parar?
Já passei por tanta coisa...
não tenho outra face pra virar...
Agora você entendeu por que minha vontade é de matar?

Não! (pra quê?)
Não quero um dia pra mim.
Quero viver!

domingo, 1 de março de 2015

Ilha de Itaparica

01/03/2015

O tempo passa o tempo todo,
só para no domingo,
quando passam os meus ventos,
em passos na areia,
em mares de sentidos.
Mares que por ora
só habitam a lembrança;
os carros na avenida embaçam a vista,
a fumaça se faz brisa
no peito de quem só avista
o mar e a Ilha de Itaparica.

O que está distante, está perto,
o que está perto, está longe.
Habitar sem pertencer,
o que seria a inversão dos sentires.
Sentires que também são quereres
- onde queres asfalto, sou baía -,
quando transformados em versos,
prosas, poesias e histórias
(reais e imaginárias),
elementos ar e água
transbordando,
transcorrendo...
o tempo do agora!,
que se faz presente na saudade.

Saudade que é fogo,
pois tudo que saúda a todo tempo
queima.
Queima como um ardor
que embaça a vista,
que nos coloca os pés na pista
da lembrança e da esperança
de um dia se banhar no mesmo mar
- não há quem resista -,
aquele que traz o Sol, com seu pôr,
com seu farol,
e aquela mesma alegria
que flutua em tudo o que fica
- meu pensamento, meu sentimento -
na Ilha de Itaparica.



Escrito em parceria com Salete Alves e Talula Mel.

Palavras Contadas

01/03/2015

Não se distancie,
não se ria,
não se embriague em mim.
Beba do meu mel
que contagia,
que cura a garganta ruim.

Ora, o que eu digo?
Que ousadia!,
querer mandar em você assim...
Não mando em ninguém, não.
(que fantasia!)
Mal mando em mim. Enfim...!

Mas você, que não vejo há tanto tempo,
que não sai do meu pensamento,
por que me trata assim?
Transpiro em meu suor uma história,
gravada em minha memória,
que não pediu um fim.

Mas antes de mais nada,
com a vista cansada,
vou te falar (preste atenção!):
isso foi tudo uma brincadeira,
uma alegoria,
um jogo de luz e ilusão.

Falei com uma certa inocência
(malemolência)
que me deu satisfação.
E se você aí lendo está confusa,
achando que é minha musa,
não viaje, que isso aqui né pra você, não.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

À Minha Terrinha

23/02/2015

Com as areias que contornam os meus pés,
viro meu olhar para o mar,
perguntando ao horizonte
aonde meu barco vai me levar.
As ondas que vêm calmamente
contrastam com as ondas fortes do fundo,
e o vento que forte balança meus cabelos
uiva mensagens misteriosas em meus ouvidos.

"O que tem para me dizer?",
pergunto enquanto a areia sobe em meus pés,
e a resposta não chega ao meu mundo.
"Não se vá. Não se vá.",
cintila o reflexo do Sol na água.
"Venha se banhar."
Que banho bom!
Piso em uma pedra que não me machuca,
e as águas me acariciam.
O vento me força a mergulhar,
mas eu boio mesmo assim,
e sinto os raios solares,
o brilho que me vem iluminar,
me confundindo com o mar.

Ouço vozes, e elas falam tanto...!
Cantos e cantos e cantos.
(e choros)
O coro da praia me contagia
(ondas, ventos, peixes, grauçás),
e eu entro na fantasia.
Trabalho minhas cordas vocais
e brilho na testa e no peito.
Me maravilho, me deleito,
saúdo e me despeço.
Adeus, minha terrinha.
Vou ali e um dia volto.
Não se esqueça de mim!,
é tudo o que peço.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Lembranças

10/02/2015

O pôr do sol me lembra todo dia
que todo dia o Sol morre.
E meu cachorro, tomando banho de sol,
me lembra todo dia
como o Sol é importante,
mas que olhar para ele cega.

A noite é quando o pedaço da Terra onde estamos
dá as costas ao Sol.
Uma briga diária
que a cada novo dia se desfaz;
como as marés,
que nada mais são que o mar em dúvida,
sem saber se quer ficar perto de nós ou se afastar.

Dúvida todo mundo tem.
Quem não tem, não sabe de nada.
Se eu demorar demais de morrer,
vou acabar com minha própria vida,
para poder ter certeza de alguma coisa.

Vou fazer uma tatuagem
só para ter alguma coisa permanente no meu corpo.
Mas vai ser nas costas,
para só conseguir ver com o espelho,
só para lembrar que não vemos
as coisas como elas realmente são.

Os espelhos são grandes enganadores
-  mostram o que não se vê -,
assim como o amor,
com essa coisa de arder sem se ver.
Vou me queimar bem na tatuagem
só para lembrar que nada é eterno.

sábado, 31 de janeiro de 2015

Paciência

31/01/2015

O que tem a beleza, que nos atrai?
E o que tem a praia, que traz tanta paz?
Um silêncio sonoro.
E o silêncio é sagrado.
E esse cheiro...
Um cheiro colorido.
Na linha do horizonte, que separa o sutil do profundo,
para que eles se reencontrem.
As nuvens das ondas, para que se reflitam mutuamente.
Os graus de verde e azul que se confundem
e se convergem em uma coisa só,
que é tudo.
Pois tudo está no nada.
Em nadar.
Nademos.
Banhemo-nos.
Lavemo-nos para sermos abençoados.
Para sentirmos a paz das ondas,
do ciclo infinito,
da ascensão e queda;
nascer e quebrar,
para morrer e renascer na mesma essência,
que sobrevive.
Ondulo com o mar e me queimo na areia.
O Sol me segue em todo lugar
e, a noite, sou invadido pela Lua,
que povoa minha fronte.
Circulo como circulam as ondas
e sinto o vento me chamar:
"Vem pro mar. Vem pro mar."
E eu vou.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Visions of the Night

27/01/2015

To enlighten the truth shown in your eyes,
I must look through, beyond what you say.
Since our thoughts are filled with constructed lies,
The image in a mirror is what we display.
How can you solve this problem that you brood?
In order to finally find some delight,
You must give up light, give up your senses,
Abandon hope, lose all your defenses,
Shatter your mind and feel some of your blood,
And then surrender to the visions of the night.

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Fração

27/01/2015

Tenho meus momentos de isolamento,
de querer me afastar, para me unir comigo mesmo.
Passo dias só lendo e escrevendo.
Meu contato com pessoas se resume ao obrigatório,
às atividades diárias que temos que fazer,
às interações necessárias.

Às vezes até saio.
Mas fico sentado no meu canto.
Converso o mínimo possível
- só quando sou forçado -
e fico com o olhar perdido, focando em
alguma árvore, vendo suas folhas dançando.
Se possível, tento ouvir o barulho das folhas.
Outras vezes vou para um canto mais recluso
(mais escuro),
onde ninguém me incomode.
Prefiro interagir com seres menos verbais,
que falem menos de trivialidades,
de dinheiro, de carro, de trabalho, de romances.
Prefiro falar das cores.
Dos sons do mundo vivo (de verdade).
Da beleza do mundo morto (de mentira).
Quando fico um tempo olhando uma árvore,
passando minha mão em seu tronco, em suas folhas,
acham que enlouqueci.
Devo ser louco, mesmo, porque esse "mundo humano"
me parece mais fantasioso que meus sonhos.
A verdade está nas nuvens.
E na terra que nutre as plantas.
Na água do rio que deságua no mar.
E no fogo, que mata, morre e transforma.

Nunca entendem quando fico olhando a Lua.
Sou fascinado por sua beleza.
Suas transformações me encantam.
Suas fases me relembram a natureza das coisas.
A natureza mutável das coisas.
E tem gente que diz que a Lua não tem vida;
que sua luz não é sua.
Ora, quanta ignorância.
A luz é tanto dela quanto nossa vida é nossa.
E garanto que a Lua tem mais vida que muita gente.
Quando converso com a Lua, me chamam de louco.
Quando ela responde, não conto a ninguém.
Eu queria ser parte daquele brilho
que a Lua cheia deixa no mar.
Morrer quando a Lua se fosse,
pois sem ela o mundo é só metade,
assim como eu.

Sou metade. Só metade.
Porque ser completo é difícil demais.
E quanto mais vivo no "mundo humano",
mais essa metade diminui.
Sou um terço. Só um terço.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Seu Caminho

O mundo ria.
E ele ia caminhando de levinho,
com passos quase tortos
(quase mortos),
que não deixavam pegada.
Será que ele ouvia?
Será que entendia a risada do mundo,
a gargalhada de vida morta?

Ainda assim ele andava.
Andava como se fosse esse seu único destino.
Andava como um moto perpétuo,
como se seu passo fosse combustível para si mesmo,
como se tivesse um ímpeto próprio,
que ultrapassasse seu próprio caminho.
Seu caminho...

Em suas mãos não carregava mapa.
Em sua memória não havia vestígios de seu rumo,
do seu destino.
Mas seu destino era afinal caminhar.
Caminhar seus passos pelo mundo,
roçar seus pés calçados sobre a terra.
Ser os dedos das cócegas
- o mundo ria -,
a unha do arranhão.
(unha lixada. arranhão sem marca)
O mundo ainda ria.

Mas seus passos prosseguiam.
Incólumes.
Impassíveis.
Inatingíveis.
Era seu destino. Seu caminho.
Sua coluna vertebral invertebrada.
Sua lordose.

Ele tinha uma pitada de sal em sua pele
- uma dose de ácido em seu coração.
As ondas que ele sentia eram só de calor
- ou de loucura, não se sabe ao certo.
E seus olhos viam o que não se vê
- e deixavam de ver o mundo.

E ele caminhava.
Seus passos seguiam o caminho
- e o caminho seguia seus passos.
Caminhava como um morto perpétuo.
Não sabia seu destino, não sabia nada.
Caminhava.
E caminhará até a morte.
(o mundo ria)

Afinal, de quem eu falo, me perguntas?
Ora, de Ninguém, posto que Ninguém
vive nesse mundo.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Agrafia

21/01/2015

Não olhe para mim, não me pergunte nada,
pois não tenho nada a dizer.
Quando era mais novo,
achava que só deveria abrir a boca
se fosse falar algo que merecesse ser ouvido.
Ora, é muita prepotência achar que tenho algo a falar
- algo que merece ser ouvido.
Meu canto torto é uma faca cega
- no máximo uma pena envenenada.
O mais prudente seria jogar a pena fora
e desenvolver uma afasia autoprogramada.
Virar um cão.
Beber em poças de água no asfalto.
Comer lixo da rua.
Ser chutado por transeuntes.
Lamber minhas feridas.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Conversa de uma Sexta com Cara de Domingo

16/01/2015

Deus,
Me empresta um pouco da sua paz.
Esse mundo tá louco demais
E eu não consigo achar explicação.

Deus,
Essa vida tá mesmo difícil.
Estamos à beira de um precipício
E eu não vejo solução.

Deus,
Abra a minha mente.
Por aqui eu ando doente
E não vejo a salvação.

Deus,
Talvez eu tenha achado a cura.
Para sobreviver a essa loucura,
Me dê mais um coração.

domingo, 11 de janeiro de 2015

River of Life

11/01/2015

Within the river of life I lie,
Surrounded by flesh-eating fishes and rocks,
Wondering whether as a farm ox
My destiny is to serve and die.

May I request any more
Of the materials which can float
So then I can build a boat
For my arms and legs are sore?

Go on. You may my requests ignore.
That is what my arms and legs were built
For; now my emptiness is filled with guilt
And my beliefs and hopes were washed ashore.

What am I supposed to look for?
With all this pain that I feel,
I wish my heart were made of steel
And I could only listen to Nature's roar.

I search for something I can never find:
The reason why this river feels like fire.
And to vanish is the single worst desire
That day after day crosses my mind.

I want to leave this water behind
And search for some hope to guide me ahead,
Because the rocks that now hit my head
Are made by the hatred of mankind.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Eu Preciso Aprender a Ser Sol

09/01/2015

Eu queria ser o Sol,
pra morrer a cada dia
e todo dia nascer de novo.
Já imaginou como seria?
No meio da escuridão
fazer raiar o dia;
no seio da solidão
ser o brilho que irradia.

Eu queria ser a luz
que do branco vira verde;
o calor que do fogo
gera a  vida.
Imagine se mesmo distante,
longe, tão longe,
eu pudesse brilhar no seu rosto.
Ser aquele calorzinho
que esquenta a bochecha.

Eu queria ser o Sol
pra brincar com a melanina.
Morenar as costas,
enrubescer o rosto.
Arder na pele,
secar o corpo:
para isso eu serviria.

Imagine como seria,
se meu toque, meu toque ardente,
fizesse a neve dereter;
transformasse o floco de neve,
com toda sua arquitetura,
numa gota d'água,
em sua esfericidade divina.

Eu queria clarear o dia,
e que o dia fosse definido em mim.
Imagine como seria:
quando eu saísse, anoiteceria;
quando chegasse, só alegria!
A praia, o rio, a cachoeira...
Se eu fosse o Sol,
felicidade,
toda chuva teria arco-íris.
Seria sete, e não um,
porque um é limitado.
Imagine se eu fosse feito de cores...!

Sabe aquele azul do mar?
O verde das plantas?
Aquela corzinha toda própria do seu olho?
Tudo eu.
Mas não sei, não.
Ser o Sol é querer demais;
é muita megalomania pro meu coração.
Acho que o Sol não seria, não.

Acho que tenho um pouco de Sol em mim
- e ainda mais da Lua.
Aquelas quatro estações,
as quatro fases,
tenho tudo isso em mim.
Mas não sei, tem também uma coisa ruim.

Eu queria ser o Sol,
mas o Sol não serei, não,
pois não gosto do sofrimento
que ele causa no sertão.
Mas já sou um pouco disso tudo aí:
branco, verde, azul,
sete, quatro, um,
vivência e ilusão.
Acho que vou ser eu mesmo.
Deixar pro Sol a iluminação.

domingo, 4 de janeiro de 2015

Água e Fogo

03/01/2015

Também quero motivo pra ir embora.
Alguma coisa deve me chamar de volta,
mas quando me despeço é com a linha torta
e com um peso no coração.
Como entender essa sensação?
Enquanto uns vivem no futuro,
meu saudosismo exacerbado
me faz viver no passado
e esquecer meu lugar no mundo.

Sou um portal no espaço-tempo.
Um toque discreto dos dois triângulos
no olhar da mente;
o brilho do Sol na Lua;
o vazio da escuridão.
As pegadas nas minhas nuvens estreladas
são aquelas feitas por fadas
- as reais, mesmo,
mas também as dos planos divinais -,
mas isso não quer dizer nada.

No meio do barulho se esconde o silêncio.
(E no meio do silêncio, confusão)
Devo partir.
Caminhar meus mais novos passos,
viver minha mais nova ilusão;
para, num momento de contemplação,
perceber que nunca saí daqui.

Daqui não saio água:
Saio fogo, raio e trovão.

Cinza e Verde

30/12/2014

Quando o cinza penetra meus olhos
E o verde se perde em meu peito,
Perco contato com os ancestrais
E não consigo enxergar direito.

São dias turvos com a mente fechada,
E o corpo aberto aos males do mundo.
No meio desse horror de fachada
Não tenho qualquer pensamento profundo.

Nessa escuridão me sinto torto
E perco toda a minha calma.
A cidade é grande demais para meu corpo
E pequena demais para minha alma.

Quando o verde volta a brilhar
E o Sol a bater em meu peito,
Me ponho então a contemplar
O mundo como um grande feito.

Me banhando nesse mar de beleza
Posso ver além do vivo e do morto;
E tudo que existe na natureza
Revive aqui, aquém do meu corpo.

Do alto tudo parece mais real
De um jeito irreal que me acalma.
A montanha é do tamanho ideal
Para conter meu corpo e minha alma.