sábado, 30 de maio de 2015

Quanto um Tanto

30/05/2015

Cada vez que vejo um rosto bonito
alguma coisa me corroi por dentro.
É tanta dúvida, tanto questionamento...
Nem sei o que me atrai de fato,
ou se essa atração é mesmo fruto do meu desejo.
Às vezes me sinto programado a obedecer a um padrão,
a gostar do que me foi dito para gostar.
E agora me sinto culpado por continuar no padrão.
E agora? O que fazer?
Bate um desespero tão grande,
uma impotência,
uma sensação de estar sendo vigiado.
Dá uma vontade de não gostar de mais nada.

Como os nossos gostos são facilmente moldáveis...
Com a televisão, igreja, "bons costumes",
nossos pensamentos, morais, princípios
são mesmo nossos?
Como saber desenhar a linha do "eu"?
Como saber qual pensamento que eu tenho
é fruto do meu intelecto?
Preconceitos são tão eficientes
que viram uma espécie de instinto.
E é preciso uma vida inteira
(talvez duas)
para superar uma vida inteira
de construção do preconceito,
de lavagem cerebral.

Me leva a pensar quem sou eu,
se eu tenho tanto que não vem de mim.
E as minhas mudanças?
Como permaneço eu mesmo?
Se eu perder um braço,
ou o controle das pernas,
continuo a mesma pessoa;
mas com hormônios a mais ou a menos,
mudo meu humor e minhas ações.
Mudo meus pensamentos constantemente.
Esse ainda sou eu?
E quem eu era era eu?

Quanto de mim sou eu?

7 comentários:

  1. "uma cerveja antes do almoço é muito bom pra ficar pensando melhor!" :)
    https://www.youtube.com/watch?v=YfF2vr7QinA

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    1. Sei, não. Cerveja enche a barriga.

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    2. te espero por aqui com uma(s) beeem gelada(s)! ;) pra pensar melhor, viver melhor, sorrir melhor do que já é

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  2. Somos sempre construção (incluindo a desconstrução), né não? Essa é a graça.

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    1. Seres inconclusos, incompletos, né? É a defesa de Paulo Freire. (e dos existencialistas)

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  3. Li isso e lembrei do seu texto. Beijas.

    "Somos, enfim, o que fazemos para transformar o que somos. A identidade não é uma peça de museu, quietinha na vitrine, mas a sempre assombrosa síntese de contradições nossas de cada dia. Nessa fé, fugitiva, eu creio. Para mim, é a única fé digna de confiança, porque é parecida com o bicho humano, fodido, mas sagrado, e à louca aventura de viver no mundo." (O livro dos abraços, Eduardo Galeano - Celebração das contradições/2, pag. 123)

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