domingo, 8 de março de 2015

Dia de Luta

08/03/2015

Eu não aguento mais sorrir,
quando eu quero é chorar.
(incoerência)
A hipocrisia tenta me calar,
mas eu não vou ficar calada,
mesmo cansada,
eu vou gritar pra poder ser escutada.
Não quero ser cão que nem morde nem ladra,
Mas ao me ver domesticada, em subemprego,
tentando ser valorizada, mas sem sossego,
eu fico mesmo é infeliz,
sem acreditar num bom futuro,
sem coragem pra enfrentar o mundo,
sem força pra pular o muro.
Então para!
A verdade que não cala
vem sussurrar em meus ouvidos,
me dar forças pra sair da vala.
Levanto os olhos para o céu,
tentando achar a salvação,
que aqui de baixo não vejo nada,
nem conto de fada, nem solução,
mas lá de cima também não.
Não!
Então me diga como eu posso
sorrir com satisfação.

Não,
não quero um dia pra mim, não.
Eu quero é liberdade, igualdade, compreensão.
Quero orgulho da minha vida, e mais satisfação.

E agora, a mentira que não cola
de que todos somos iguais.
Que brincadeira... não me enrola!
Não tô acostumada a ser enganada;
eu não sou burra, isso não rola.
Então vamos falar a verdade.
Não sou de jogar conversa fora,
falando de trivialidade,
de novela ou coca-cola.
Eu quero é mais.
Mais!
Um bom salário, um bom emprego;
quero direitos, não quero esmola.
Quero poder andar na rua
sem medo de ser estuprada
e ainda ouvir um homem falando
"Era ela que tava errada,
com aquela roupa, aquela conduta,
não era moça, era puta.",
e ainda ter que ouvir essa merda calada,
porque eu sou amordaçada
todo dia, toda hora,
pelo machismo que ainda existe,
que persiste, não foi embora.
Então para!
Não cala, não chora.
Vamos à rua, vamos à luta,
sem medo e sem demora.
É agora!
Vamos lutar para vencer!
E se eu morrer?
Não me arrependo, não dei o braço a torcer.

Não!
Não quero um dia pra mim, não.
Eu quero é liberdade, igualdade, compreensão.
Quero orgulho da minha vida e um bom futuro.
Pega a visão!

Mas não é só do nosso lado
que a corda sempre parte;
no mundo tem muito ódio
e toda sorte de covarde
que aproveita de sua condição,
de sua suposta "normalidade",
pra fazer tanta besteira,
toda forma de atrocidade
e sair ileso,
porque "é aceitável, não se abale",
mas não.
Não!
Não tenho a menor condição
de ouvir de gente assim
qualquer discurso e manifestação
de sua completa arrogância, ignorância e podridão,
quando vira para mim
e diz sem exaltação:
"Hoje eu tô meio abalado,
porque não sei o que é ser reprimido,
marginalizado, linchado,
ser julgado culpado
por um crime que não cometi,
ser acuado pela cor ou lugar onde eu nasci.
Mas hoje eu vi um mendigo no chão
(que pena).
Tava largado, comendo lixo,
enquanto eu ia pra Ipanema
pegar uma praia, pegar um sol,
mas não esquenta não, irmão,
mais tarde eu vou prum bar,
me embriagar,
esquecer a tristeza no lençol,
porque pra mim vai tudo bem.
Não preciso me incomodar,
já que nada vai me faltar,
amém."

Não!
Não quero um dia pra mim, não.
Eu quero é liberdade, igualdade, compreensão.
E distância dessa gente que cospe em quem tá no chão.

Mas o mendigo ainda tá ali,
comendo o lixo do playboy
que no outro dia já se esquece;
isso me mata, isso me dói!
Vejo minha gente acuada,
seu sangue no chão,
e não ouço sua voz.
E agora?
Onde anda nossa aurora?
O preto pobre é como um vírus
nos olhos da sociedade:
deve ser exterminado
para a "limpeza" da cidade.
A favela é invadida
por um bando de covarde
que exala morte
e muito mata.
(isso é maldade)
Com a desculpa da guerra às drogas...
Ah...!
É rir pra não chorar!
Melhor gritar, ir pra luta,
não se virar, não descansar,
porque esse mundo não tá perdido.
Não vou deixar me abalar!
E agora o quê?
Me deixa viver!
Tô preparada pro combate,
já tô cansada de sofrer.
E no final?
Aonde isso vai parar?
Já passei por tanta coisa...
não tenho outra face pra virar...
Agora você entendeu por que minha vontade é de matar?

Não! (pra quê?)
Não quero um dia pra mim.
Quero viver!

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