segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Miragem

26/10/2015

Quisera ser um outro mundo,
que de mim mesmo já cansei.
Passam-se dias, meses, anos,
e o que me é sagrado
continua por ser profano;
e o que eu quero,
agora nem mais sei.
Nunca quis ser pastor,
rebanho, nem rei.
O que me espera agora,
o conforto de uma linha torta,
a quimera que me agoura
minha vida que me agora.
Do resto, nem eu sei.

Cada relação é uma fachada
e eu sou argamassa.
Queria não ter planos,
pisos, nem curvas.
O mundo real é uma traça
em meus tecidos humanos.
Eu sou uma farça.
Matéria insalobra sem gosto,
sem graça.
Queria ser nada.

Ser um nada sem corpo, sem voz,
sem reflexo de luz,
sem cordas, sem nós,
acompanhado ou a sós,
ser eu.
Eu mesmo, sem nada do que não sou.
Só assim me veriam verdadeiramente:
sem rosto, sem sombra, sem cheiro...
Queria que me amassem como eu sou,
ou me odiassem por inteiro.

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