quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Mosca

27/10/2016

Hoje estou meio nebuloso.
A vida em carne viva
espanta os de estômago fraco.
Arco do fracasso numa íris.
Pupilas dilatadas e corpo em transe.
"Trago notícias do mundo que vem."
Eu não vou. Que horror!

Caído.
Costas ao chão.
Corpo ao céu.
Fisicatástrofe.
Se não morro, fico mais forte.
Se fico mais forte, luto mais.
Uma hora mato ou morro.
De desespero ou de dor.
Ou de solidão.

Levanto.
Lambo minhas feridas.
Pesco novas forças.
- esperança -
Alimento minha alma.
Minha alma.

Que as bruxas dominem esse mundo!,
pois o reino dos homens fracassou.

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Quarto Crescente

10/09/2016

Eu tive um sonho.
Eu não era nada.
Não me percebia.
Não sentia meu corpo.
Não controlava meu corpo.
Porque aquele corpo não era meu.
Não era eu.

Mas sentia todo o resto.
Aquelas mãos que tocavam a grama
eram a grama.
Se prolongavam até as plantas.
Até o mar.
Até as nuvens.
Até as estrelas.
Eu era tudo.
E nada.

Me senti outros.
Me senti mulher.
Eu era mulher.
Uma mulher.
Um grande amor.
O maior que eu já tinha sentido.

Mas não era sonho.
Era vivência concreta.
Realidade.
Um chá de vida.
Foi tudo real.
E ainda é.
Nada mudou.

Fruto de Chão

10/09/2016

Precisava mesmo de um banho de terra.
De minha terra.
Sol, praia e amor.
Seja onde for,
seja o que for,
sei bem o que quero.
Sinto e não minto.
Mato e morro,
rio e sofro,
e vou até o fim.
Com toda força que restar em mim.
E quando forças não mais tiver,
empresto, reuso,
uso qualquer recurso.
Haja o que houver,
não cruzo meus braços para o que vier.

Não há labirintos pra me perder;
nem barreira pra me barrar.
Resisto.
Vivo.
Persisto.
Decifro-te.
Agora me devore.

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Sonho Concreto

Tudo que eu mais desejo
já existe para mim.
A concretude do meu sonho abstrato
se cala
no sangue que corre em meu peito.
Eu vejo,
desejo,
e meu olhar farfalha.
Meu andar cadente pelo beijo
da estrela que me ilumina
alucina.
Desvaira pelo vão
do meu caminho.
Sozinho nada!
Nado ao encontro do fogo nato.
Minha determinação é um fato!
e um ato de confiança
na luz
e na sombra.
Mesmo que apareça
ou se esconda;
que olhe para frente
ou para trás;
não me escape pelos dedos!,
pois mesmo que tente,
escapar da minha mente
não é capaz.

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Desejos

Desejo muito da vida
E do Sol que me ilumina
Tenho as dores dos males do mundo
Em mim
Queria ver meu corpo sangrar
Para sentir por fora o que sinto por dentro
Queria sonhar
Mais

Ser feliz
Como uma planta de plástico
Queimar ou derreter
Eis a questão
Não sei muito da vida
Além do meu drama de classe média
Tampouco sei da morte
Sou só quereres

Dos meus desejos mais profundos
Um abraço

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Minotauro

25/07/2016

No labirinto das escolhas,
a sorte.
Me perco e me reencontro entre paredes
longe do ninho.
Queria estar andando nas nuvens.
Queria estar boiando num rio.
"Não sonhe demais, peixinho,
ou pode acabar se afogando."

Sonho minha vida e mais algum encanto.
No brilho forte da chuva,
a limpeza para novos dias.
E novos passos.
Na estrada, pedras e desalinho.
E uma silhueta rasa.
Só um vulto guia meu caminho.

Ainda

24/07/2016

Bendita é a noite,
que faz raiar o dia.
As folhas e seu verde-luz
que contagia.
Viva o contágio de vida!
Viva a flor que nasce no asfalto!

A escuridão é o reino das sombras
e da esperança.
Bendita é a pequena morte.
E que toda sorte de mundo
se me apresente.

Morte súbita,
minha singela insignificância
finda.

sexta-feira, 15 de julho de 2016

carniça

15/07/2016

sou um cão de insígnia torpe
um malbocado do mundo encarnado
carniça
sou lobo da estepe
de chuvas ralas de sombra e luz
guerra e paz

do mato à carne
da carne ao laço
compasso
das medidas da minha vida
descompasso
dos ventos que me caminham
com passo
leve de cada alma sofrida

animal de couro degastado
saliva gasta
trevo de seis folhas
bebida amarga
ventre do inferno
no cerne do paraíso
caroço, gomo, visgo

falo a voz da concha do mar
e ouço sussurros da brisa
o mundo vem me escutar
atenção
mas não tenho o que falar
sou só ouvidos
aprendizado
e luta
viva o mundo que ama
e contesta a força bruta

da mata
do fogo
das lutas
queimadas nas terras
do ódio e opressão
ascensão em sol
fusão

domingo, 12 de junho de 2016

Palavras Perdidas

12/06/2016

Deito em sombras de desterro;
Murmuro.
Deixo saltar de meus olhos
As paisagens que não vou visitar.
E o Sol que se esvai
Reluta em se despedir.
Murmuro
Versos de quem não tem o que versar.

Em meus devaneios de homem são,
Morro.
O Sol se vai.
Mas o mar continua a me espreitar.
Minhas roupas poucas demais para o frio
Me deixam com uma mensagem:
Não sou invencível.

Sou uma pedra ou um moinho de vento
Girando ao som das ondas
Ou barrando meu desalento.
E a folha correndo no vento frio
É mais forte que eu.

Contenho meu riso desesperado
E sussurro palavras ao mar.
Palavras perdidas.
Ou talvez jamais faladas.
Volto ao meu escuro eterno
E minha mente reluz de lembranças.
A noite está fria demais para sonhar.

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Cavalaria

31/05/2016

Todo dia o mundo ataca
e você se defende,
foge, esquiva,
se perde, se mata.
Perde até os sentidos,
não lembra mais o que faz falta.

E agora o mundo vem bater à sua porta.
E você, numa postura meio torta,
tenta resistir ao mundo em vão.
Leva uma rasteira que te deixa no chão,
sem eira nem beira,
sem faca nem queijo na mão.

Reaja, camarada, reaja!
Se ponha de pé,
revide, ataque!
Vá de meia Lua, Lua cheia!
E a cada golpe do mundo,
saia de negativa.
Não se aflija!
De pé no chão
ou pé no alto,
vá para cima do mundo
com um salto!
Derrube quem te quer derrubar!

Com uma tesoura nas opressões
e no sistema que te explora,
um mundo novo nascerá!
E na solidariedade de cada roda
o amor prevalecerá!
E então, livre,
na ginga dessa nova aurora,
não haverá ninguém para derrubar.

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Tata

23/05/2016

Das lamas em minhas raízes entranhadas,
um suspiro.
Um chacoalhar de galhos e folhas
caindo.
Um som.
Sou fruto do mundo que me entorna.
Nunca fui nada.
Mas serei tudo,
até voltar a ser nada.

Se não valho nada,
nada nunca valerei.
Mas valho tudo mesmo!
Valho o mundo!
Da natureza, peço encarecidamente
que me confie seus segredos.
Sou um tesouro a ser descoberto.
Basta ouvir a natureza.
Sou vento e chuva.
E na minha entrega deixarei a terra molhada.
Sou chuva para o Sol,
e as cores vivas são minhas crias.
Ajehecha!

Que minha maestria venha das árvores!
... do fogo e do mar!

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Gutural

18/05/2016

Sou um ser fictício.
Um misto do reino das sombras
e do olhar infinito.
Sou vivo, mas errante;
fraco no laço e mutante.
Que o mar seja meu amante
e me leve aonde quiser levar.

Não sou vivo e temo a morte,
mas com a sorte do meu sonhar,
sobrevivo em tempos alheios.
E, ora ora, se me quiseres,
basta sonhar o meu sonho,
pois sou tão denso
quanto o universo astral.

Em meu virtualíssimo ser,
um terror profundo
de ser só mais um no mundo;
um escárnio do mundo real.
Não quero nem ser igual,
contundente,
inconsequente,
natural.
A mim interessa ser constante,
seja perto ou distante,
mesmo assim marginal.
Quero ser o que sou:
um bit, uma memória,
uma estória de ninar,
uma vela acesa,
um romance matinal.
Acendam-se os corpos,
tombem-se os muros,
mimetizem o final!

domingo, 8 de maio de 2016

Talvez

08/05/2016

Não precisa explicar
Eu sei
Eu sei mais do que eu posso contar
Talvez eu me sinta mesmo assim
Mesmo sem
Mesmo são
Talvez não

E no universo que a vida me levar
Deixa estar
Deixa ser
Uma ação
Um começo de explicação
Agora não
Só depois
Um ou outro
Ou nós dois
A sós
Em paz
Só nós
Meio assim
Talvez sim

sábado, 7 de maio de 2016

Turbulência

07/05/2016

Silêncio é uma arte.
Silêncio e solidão:
silêncio interno, solidão externa.
Um caminho para a solitude.
O silêncio de uma multidão
que conversa e te ignora na espera
do começo de um show.
O silêncio de uma cachoeira
que tagarela beleza ao mundo.
E o barulho silencioso de uma multidão
em sua correria diária é um açoite.

Cada nota sentida silencia meu coração.
Os gritos difusos,
confusos,
de onde eles vêm?
Para onde irão?
Um dilema entre filosofia e religião.
Só a política para salvar.
E meu egocentrismo.

Se um homem é um ser social,
um homem só é o quê?
Um pequeno girassol.
Um depressivo ou um hedonista.
Devo ser egoísta.
E das ilusões que eu tenho,
o silêncio é a mais bela vista.

domingo, 3 de abril de 2016

Linhas e Nós

03/04/2016

O espelho que me falta
muito tem a me dizer.
Me conformo com paredes brancas
e céus pretos.
Estrelas umbrais da escuridão.

No universo do desconhecido,
árvores podem ser de pedra,
sombras podem ser de luz
(e são).
Cabe o infinito num ponto da mão.
Acordes e desejos de um
futuro, presente, passado
que virão.
Cabe pergunta, apelo, explicação.
Um "sim" ao coração
(que não se priva de razão).

Cabe ser um retrato de mim mesmo;
uma interminável, incessante, imutável
pintura do tempo
e do acaso de nós no mundo;
um desgaste e um sentimento profundo;
uma voz.
Cabe ser uma alegoria de mim mesmo;
um rumo do farol que já nos ilumina.
Cabe ser nós.

Que da poesia de nossos
opostos complementares
se façam as linhas,
os versos,
as prosas,
as trovas.
E o verbo amar.
Vamos nos emaranhar!

domingo, 27 de março de 2016

Cereja

26/03/2016

Toque em meu peito
e sinta meu coração que bate.
Em seu ritmo cadente, o segredo de tudo.
O toque da serpente
e o veneno em minhas veias.
Mares salgados de minhas areias.

Enredado em meus cantos,
sou terra molhada
metamorfoseada em meu casulo.
Enclausurado em mim, fico mudo.
Escuto o brilho lunar,
me deito e me sirvo.
Pegue em meu pulso
e veja que ainda estou vivo.

sexta-feira, 18 de março de 2016

Veias Saltadas

17/03/2016

Não há mais estrelas no céu,
mas nada mudou:
pássaros reinam, pastos e balas.
O sino tocou.
Acabou o recreio.

Foice, estribo, martelo, bigorna:
surdos e cegos seguindo o capitão.
Ou panelas, apitos, gritos, rojão.
Cachorro pulguento, fascista, machão.
Enjoo, náusea, vômito, enxofre, vulcão.
Que o fogo venha de quem tem pés no chão!

Que não seja segunda, nem terceira via!
O desespero nos acode,
a esperança nos socorre,
e no fundo uma voz que berra, mas não corre:
Anarquia!

sábado, 12 de março de 2016

Um Quarto de Vida

12/03/2016

Meu peito dói e eu quero uma solução.
Uma tosse para expulsar
o que me corroi por dentro;
lágrimas para lavar tudo que há em mim.
Será assim ser um cometa em combustão?

Em meu quarto, chuva e solidão.
As paredes não parecem conter
o que vem de fora.
Espero o quarto alagar,
e o medo de me afogar
me faz deitar no chão.

"Será arte?"
Não sei, não.
Mas a vida está aí,
e o terror faz parte.
Uma vida na Terra
ou uma morte em Marte?
Abro meus olhos.
Um trovão faz tremer o chão
(e meu coração).

Medo de Trovão

11/03/2016

Nem sempre estou preparado para chuva.
Em meu deserto pessoal
a chuva molha, encharca, alaga.
Congela meu coração de pedra mole.
Que sorte!
Que forte o vento e a brisa!
Não sei se corro risco
ou se o risco me socorre.

Das infinitudes da vida,
a mazela de ser o que se é.
Nunca se sabe o que cabe.
Vai vendo,
que nem todos nós
podemos ser a causa de tudo.
E quando não somos a causa de tudo,
nos sentimos um nada sem causa;
a causa de nada.
à cause de rien
grace à dieu

Na rua deserta só quem fala é a chuva.
E os riachos urbanos
fazendo sua viagem.
Um brilho oculto no céu
e na nuvem cinza uma mensagem.
Buen camino.
Que me reste uma flor
para onde eu for.
E quando cessarem minhas consequências,
que minhas últimas palavras sejam de amor.

segunda-feira, 7 de março de 2016

A Sip of Bloom

07/03/2016

A glimpse of light
and the waveprint of the dawn:
the end of an endless night,
hope as the world goes bright
and vanish the stars that were shown.

Sleep I could, I should or I might,
but since I've been granted the gift of sight,
leaving the sorrowest dark of the room,
I turn my reddish eyes to a bloom
and surrender, defeated in this fight.

How good, worthy, peace of mind!
I've seen, I've shone and I'll shine,
although the world may not recognize.
And as to my heart and its size,
it is not more theirs than it is mine.

And as the time passes, comes the noon;
I recall it will be dark soon
and we'll be able to see the moon.
A simple sip of tea
and a hearty health to thee.

domingo, 14 de fevereiro de 2016

Onda Sonora

14/02/2016

Quero ser as pulsações no teu peito
E o brilho do teu amar
Pois meu único defeito
É nunca deixar de sonhar
E em teu sonho ser luz
Do luar que te conduz

Nos medos que tiveres
Me deixa ser tua coragem
E aos beijos que me deres
Que eu me entregue de verdade
Que verde amadureça
E com tudo isso cresça
Junto com o que puder te dar

Aqui não fico tão perto do mar
Mas me deixa virar onda
Que eu quero te afogar
De amor em mãos
Nada mais pode faltar

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Riachinho

04/01/2014

Sob as águas de uma cachoeira,
O Universo se curva em minha mente;
Me torno pássaro, peixe e serpente,
Purificando minha alma inteira.

No ponto mais alto de uma montanha,
Meu corpo se ilumina, sublima
Em diversos outros estados; culmina
Num suspiro que a si mesmo estranha.

Quando eu abraço forte a Natureza,
Me privo de toda e qualquer certeza.
Me liberto da Verdade e da Ilusão,

E atinjo outro nível de compreensão:
Sinto enfim que o amor não tem norma,
Porque a vida não tem fôrma, não tem forma.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Vulto de Vida

18/01/2016

Em planícies arenosas
e montanhas pedregosas.
No azul verde do mar
e no vermelho cálido do fogo.
Em toda parte e a todo tempo
sou um mundo de duas faces,
um ser do fabuloso mundo das ideias.

Minha visita ao mundo real
é um pedaço de minha brevidade.
Faço contato,
marco horário
e apareço.
Desapareço quando necessário.
E volto, sem clamor,
à minha virtuosa virtualidade.
Fico confuso, sinto saudade,
mas o mundo concreto não me pertence.

E se o mundo virasse ao avesso?
Se o mar chovesse no céu
e o fogo queimasse na madeira?
A mão seria quase nada,
porque o mundo seria completo.
Concreto.
E a ideia seria o avesso de tudo.
Contudo, nada é dessa maneira.
Em alguns momentos estou vivo.
Em outros não existo.
E meu tempo é limitado.
Vivo, resisto.
Quando não, desisto.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Caminhos

15/01/2016

Não pude parar de pensar.
Caminhei, me sentei,
contemplei o mar,
mas por dentro a cabeça a girar
não soube descansar.

Cada batida da onda
era uma onda,
uma viagem a tempos longínquos,
a mundos paralelos distantes.
Diz tanto o nosso sonhar...
A vida é feita de sonhos.
E de luta em fazê-los realidade.
E do gosto agridoce de acordar.

Esqueci de lembrar dos outros caminhos.
Vim com pista certa,
em linha reta,
pedra ante pedra.
Uma seta sem meta,
pois não há nada que me completa.

Me contempla o Sol que arde.
Que não tarde meu entendimento,
pois a vida é selvagem.
Não marca horário.
Ladra, morde, bate,
se debate.
Se solta.
Andei em linha reta
só para dar uma volta
e me esquecer de onde eu vim.
Minha vida é um grande esquecimento;
e a morte um esquecimento de mim.