segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Miragem

26/10/2015

Quisera ser um outro mundo,
que de mim mesmo já cansei.
Passam-se dias, meses, anos,
e o que me é sagrado
continua por ser profano;
e o que eu quero,
agora nem mais sei.
Nunca quis ser pastor,
rebanho, nem rei.
O que me espera agora,
o conforto de uma linha torta,
a quimera que me agoura
minha vida que me agora.
Do resto, nem eu sei.

Cada relação é uma fachada
e eu sou argamassa.
Queria não ter planos,
pisos, nem curvas.
O mundo real é uma traça
em meus tecidos humanos.
Eu sou uma farça.
Matéria insalobra sem gosto,
sem graça.
Queria ser nada.

Ser um nada sem corpo, sem voz,
sem reflexo de luz,
sem cordas, sem nós,
acompanhado ou a sós,
ser eu.
Eu mesmo, sem nada do que não sou.
Só assim me veriam verdadeiramente:
sem rosto, sem sombra, sem cheiro...
Queria que me amassem como eu sou,
ou me odiassem por inteiro.

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

No Raiar de Cada Dia

07/10/2015

Hoje eu senti o Sol sem ve-lo.
Abri os olhos como encantado,
chamado por um canto do dia novo.
Meu peito moço, encarnado,
apaixonado por um brilho que não via,
borbulhando pelo que sentia.
Nada como acordar com o acordar do dia.

Adoro ouvir passarinhos!
É um sinal de vida,
de prazer de que não me privo.
Eu me lembro que estou vivo
e o mundo está vivo à minha volta!
O que muito me prende e muito me solta.

De noite, um frio confuso que me arrepia.
Sinto medo da dor e do mundo;
da dor do mundo.
"Doutor, como eu posso me curar?"
Não se iluda, meu filho.
O mundo é duro e real,
e se você quiser vencer todo mal,
verá à frente um trabalho para toda vida.
Não se iluda, mas não se esqueça:
por mais impossível que pareça,
no raiar de cada dia,
ouça o novo passarinho
a cantar no ninho
e sorria.