quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Parte de miM

25/12/2014

Eu nem sei do que sou feito agora.
Nem o que é feito de mim.
Meus poemas já falam um tanto do que eu sou
e mais ainda do que não sou.
Do que seria,
posso vir a ser
e nunca fui.
Mas já fui tanta coisa que nem lembro.
A memória também é uma coisa sobre a qual me debruço,
mas não entendo.
Vejo do alto,
de longe,
e só o eco me responde.
Memória e criação: como distinguir?
(Existe distinção?)

Tenho um pouco desse azul em mim;
esse azul de qualquer poesia,
e alguma coisa de esquizofrenia.
Uma comunhão entre realidade e fantasia;
nunca se sabe o que é o quê.
Nem quem é quem.
Mal sei se eu sou eu mesmo.
(Nem sei definir quem é esse "eu",
esse pedaço de matéria aglomerada,
essa coisa mutável na existência)

Me defino pelo azul do céu,
mas mais ainda pelo azul do mar.
Mas pode me enxergar como quiser,
porque nem eu me vejo diretamente.
O espelho fala menos de mim que a Lua.
E o Sol é o fogo no meu peito.
(Aquele que queima sem tocar, sabe?
que deixa uma mancha no olho,
aquela mancha que segue nosso olhar)

Sou pedra
aquela pedra que quebra a onda
e quebra na onda
vira pozinho
farelo.

Sou um pouco de farelo;
poeira cósmica.
Parte de mim é isso.
.a outra parte não está em miM
O resto, nem sei.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Feito

22/12/2014

Sou feito de carne e ossos,
De pensamentos e sonhos.
Sou um misto de real
E complexo, imaginário.
Sou uma metamorfose
Fantástica, gente-fada.

Se eu não fosse desse mundo,
De outro mundo então seria;
Com carne, ossos e pele,
Ou, quem sabe, nada disso.
Seria assim, diferente.
(Ou, quem sabe, nada disso)

Carrego em mim tudo que me representa.
(E um tanto mais que nada tem de mim)
Um pouco daquilo que me contenta
E um tanto disso que me deixa assim.
Independentemente de ser mandado às favas,
Tudo que existe (ou não) me inventa.
E se eu fosse então feito de palavras,
Que poesia seria de mim?

sábado, 20 de dezembro de 2014

Disposição

19/12/2014

Eu poderia morar aí:
Tremer com o frio do inverno,
Suar com o calor do verão,
Chorar com as folhas do outono
E sorrir com as flores da primavera.

Eu poderia morar aí,
Mas nada seria diferente.
(Tampouco seria igual)
Me banharia em águas
Que já passaram por aqui.
O vento que me acariciaria o rosto
Teria as moléculas que me cumprimentam aqui.
O Sol que faria a Lua brilhar
Seria o mesmo que aqui me arde nas costas.
Minhas palavras seriam outras,
Mas minha voz seria a mesma.

O que mudaria?
As pessoas?
Você pode dizer que aí elas são como a neve.
Ou que mudam com a estação.
Pois aqui elas são como o Sol:
Brilham no mar, dão vida às plantas,
E racham o solo do sertão.
O que importa não é nada disso,
Nada do que podemos sentir com os olhos, com a mão;
Somente o que passa em nosso coração.
E para mudar, querida, basta ter disposição.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Sonhos e Planos

15/12/2014

Para que conversamos,
Se já tivemos essa conversa
Em outros planos?
De que importa o que vamos viver,
Se já vivemos tudo em nossas mentes?
Me pergunto quanto do que vivemos
(Internamente) compartilhamos.
Muito, penso eu.
Mas só penso o que meus sonhos me dizem.

E falam até demais!
São as criaturas dando conselhos ao criador.
(Às vezes me questiono se não é o contrário)
Em diálogo com meus sonhos,
Eles monologam. Me modelam.
Me dizem quem sou e quem seria.
E quem somos.

Meus planos
(Aqueles mais escusos)
São infalíveis em sua falibilidade.
Mas às vezes dão certo,
Nem que seja nos meus sonhos.
(Será que um dia conhecerei seus pesadelos?)

Naquele dia que nossos olhos se cruzaram,
Que fomos apresentados,
Que demoramos para dançar,
Comecei a sonhar e não parei mais.

sábado, 13 de dezembro de 2014

A Lua e suas Fases

13/12/2014

Quando escondida sob um véu
De mistério e de desejo,
Olhando para esse céu
Com as estrelas a brilhar,
Só posso aproveitar o ensejo
Para os seus olhos procurar.

Mas os seus olhos, a sua forma
De deusa, de ser divinal,
Envoltos por um arco luminoso,
Tudo fica mais precioso,
E invisível ao olhar mortal.

Depois começa a se mostrar,
Passo a passo, mais e mais;
E a visão do seu brilho fugaz
Força quem a vê a suspirar.

Até que se mostra por completo,
E perante tamanha luz,
De sujeito passo a objeto
E seu brilho ofuscante me conduz
À terra do sonho desperto.

Quando se cansa de brilhar,
Volta a buscar o véu,
Dá chance aos outros seres do céu
E seu brilho faz minguar
Só para o ciclo recomeçar.

Mas sua beleza está em cada passo
De suas metamorfoses infindas;
Em cada contorno, em cada pedaço...
A Lua e suas faces são todas lindas!

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Tempo

05/12/2014

O tempo passa.
Mas como pode passar o tempo,
Se a cada novo momento
Há um momento novo?
O tempo nasce e morre
A cada instante;
Desaparece agora,
Para no instante seguinte
Reaparecer novamente.
Reformulado, modificado, novo.
Outro.

O tempo muda como o resto,
E tudo muda com o tempo.
É um astro-mãe,
Uma condição para a existência,
Uma essência auto-evidente.

Tempo,
Muda os laços do meu destino,
Me cria novo, me mata velho,
Me inventa menino.

Tempo,
Me abraça com seu vento,
Me beija com seu sol,
Me faz o seu invento.

domingo, 30 de novembro de 2014

Só Sei Não Saber

30/11/2014

Penso que sei pensar,
Digo que sei dizer,
Sonho que nem sei saber
O que um dia acontecerá.

Não sei de nada.
E minha existência é tão abstrata,
Que nem o nada me sabe.
Aliás, nem disso sei:
Nem sei se alguma coisa sei.
Penso que sei, mas penso que não sei pensar.

Digo menos ainda.
Palavras são incapazes de representar o mundo;
Como poderiam representar meus pensamentos?
Até que nem tão complexo assim.
Se eu sou algo incompreensível, meu pensamento é mais.
Nos planos mentais, nada é discreto:
O conexo é disconexo; o simples, complexo.
Mesmo o discreto é indiscretamente contínuo.

Sonho tudo que possível,
Mas os sonhos são falíveis.
Símbolos são incapazes de representar o mundo;
Como poderiam representar minha alma?
Na pareidolia das formas imateriais,
O labirinto infitino.
Sonho o impossível.

Nas linhas curvilíneas se escondem as retas,
Pois todas as retas já foram curvas.
Foram e serão, pois não há contradição
Na comunhão das escalas espaço-temporais.
Ali-depois, aqui-agora,
São duas formas para a mesma constatação,
Dois seres-estados.

Nos sonhos, os seres-estados se confundem.
Se compreendem mutuamente sem qualquer informação,
Porque toda a informação está lá fora.
Lá fora-dentro.
E lá dentro-fora está tudo:
Meus pensamentos que não se sabem pensados,
Minhas falas que não se ouvem faladas,
Meus sonhos que não se sentem acontecidos,
Meus sentimentos.

Ciclo do Cansaço

29/11/2014

No instante em que a figura se transfigura,
As projeções perdem sua luz
E a imagem só permanece visível na memória.
Que glória! Que história de ninar!
Ovelhas saltando a cerca e sorrindo
O sorriso sarcástico dos lobos.

Caminhando com passos barofóbicos
Nos corações alheios,
As pegadas são imperceptíveis a olho nu
- Por vezes invisíveis ou inexistentes.
As flutuações inconscientes
Preservam a superfície do solo vermelho.

Um ciclo sem fim
Finda quando um ponto sai do lugar.
Pedro amava Maria, que amava João,
Que se cansou dessas coisas do coração.

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Projeções

27/11/2014

O que seria de mim sem você?
Sem seu carinho, sem seu suporte,
Sem seu amor que me conforte,
Sem tudo que eu queria ter?

Sua existência me acalenta,
Me carrega nas costas.
Seu sorriso me ilumina, me encanta,
Canta seus versos no âmago do meu ser.

Minha existência
Se justifica na sua presença,
Em sua matéria,
Em seu olho que me olha.
Meu tímpano
Se justifica no som da sua voz.

Sem você não sei viver.
Sendo só ou só sendo,
Não posso só ser com você.
Sua ausência estilhaça
O espelho do meu olhar.

Devo ser em mim mesmo.
Suportar-me em minhas próprias costas:
Só assim aprenderei a viver.
O que seria de mim com você?

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Do Alto

02/06/2014

Debruçado no parapeito de um prédio,
Absorto no vazio em meu olhar,
Percebo que esse infinito tédio
Por eras ainda vai perdurar.

Vislumbro o terror do dia a dia
Nos muros dessa cidade litorânea,
Que escarra no chão minha agonia:
Um dejeto de lama contemporânea.

Aqui do alto nada parece mais real,
Mas de fato tudo é vício visceral
Das ânsias de meu espírito incauto.

Assim, carrego um profundo temor,
E quanto a esse sobressaltante horror
Em meu peito, não sei se solto ou se salto.

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

O Mar É Amor

19/11/2014

Quando eu olho para o mar,
No fundo, eu vejo meu ser.
Com as graças de Iemanjá,
Meu sol brilha em você.

No meus vai-e-vens microscópicos,
Sou uma onda do mar da vida,
Em suas águas salgadas que são minhas;
No seu cheiro que vem do meu corpo.

As pedras em sua imensidão
Estão presentes em mim.
E eu abraço elas,
Contorno,
Me escondo,
Confronto,
Danço com elas.
Sua rugosidade completa minha suavidade.

Como fluido que sou,
Me adequo às paredes de meu recipiente;
Minha forma é meramente referencial.
O Sol me olha e me aquece.
Seu fervor contempla minha serenidade.

Sou uma onda:
Eterna em sua essência,
Efêmera em sua forma.
Sou parte do mar.
E o mar é amor.

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Atravessar a Ponte

02/05/2014

"Não acredito que te deixei aí",
Disse ela, com tristeza ao falar;
"Não acredito que te deixei partir",
Respondi, sem a saudade negar.

Separados por uma ponte infinda,
A distância se esforça em nos separar,
E até hoje eu não sei ainda
Quando novamente a irei encontrar.

Mas de nada adianta perguntar;
Se precisar, enfrento o ceu, confronto o mar,
Penetro o bosque, ou desafio o monte.

Não importa o esforço que precisar,
Tampouco o tempo que isso for tomar,
Mas vou um dia atravessar a ponte.

sábado, 15 de novembro de 2014

Sonho de Sonhador

15/11/2014

Um sonhador,
Um ser do mundo das ideias.
Vivo e morto,
Presente e ausente,
Real e imaginário,
Yin e yang.
Além do bem e do mal;
Um ser-estado.

Estado de ser quem é
- E o que não é.
De ser só e só ser.
A presença do futuro
No ouroboros da vida.
O epoché suspenso,
As nuvens submersas
Num mar de significação;
O estado do ser em significar.

Os signos dispersos nas flores astrais.
As sépalas sonoras, as pétalas místicas
Circunscritas nas palmas das mãos.
Os sinais invisíveis de mãos imateriais,
As pegadas aéreas dos pés descalços.

Passos descompassados
No contratempo
Das passarelas metonímicas.
Odores sonoros e cores nefelibatas.
Sentidos reais de essências irreais;
Passos passados e futuros
Da constância da inconstância da realidade,
Da eternidade da efemeridade.
Tempo de sonho de um sonhador.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Zwischen Wissen und Glauben

10/11/2014

Ich will das Glück auffinden,
Aber wie kann ich das tun?
Ist es wichtig im Leben?
Ist es seine Bedeutung?

Wie kann ich es wissen?
Leben ist der Traum der Träume.
Ein Baum unter den Bäumen;
Ein Kuß und ein Bissen.

Nichts kann meine Seele schreiben.
Viel habe ich schon gefragt...
Ein großer Philosoph sagte

Jeder Frau und jedem Mann:
„Wovon man nicht sprechen kann,
Darüber muß man schweigen.“



Tradução: Entre Conhecimentos e Crenças

Eu quero encontrar a felicidade,
Mas como eu posso fazer isso?
Isso é importante na vida?
Isso é seu significado?

Como eu posso saber isso?
A vida é o sonho dos sonhos.
Uma árvore entre as árvores;
Um beijo e uma mordida.

Nada pode minha alma escrever.
Muito eu já perguntei...
Um grande filósofo disse

Para cada mulher e cada homem:
"Sobre aquilo de que não se pode falar,
Deve-se calar."

 ps: Eu não gosto de traduções de poemas, mas acho que aqui cabe uma tradução para expressar meus devaneios linguísticos.

ps2: Acho que cabe também dizer que sou um iniciante no estudo da língua alemã, então peço pouca exigência com meus poemas em alemão (tem outro que ainda não postei), porque meu conhecimento dessa língua é ainda bastante limitado.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

O Vidro

07/07/2014

O vidro:
Um espelho e um prisma.
Por que em uma única existênca
Duas formas de ver o mundo?
- Ou é o mundo que vê duas formas?
Seria indecisão,
Antítese,
Paradoxo,
Contradição?
Ou uma discreta explicação
De que na vida ou na forma
A realidade não é unilateral?
- E a verdade não é consensual?
Se conforma, irmão.
Se conforma.

domingo, 2 de novembro de 2014

En lo que Creo

02/11/2014

En mi vida no busco la verdad,
Sino la luz en mis ojos.
Quiero calor, amor y libertad;
Alegrías, pasiones y sonrojos.

Lo que pienso no es lo que creo,
Tampoco lo que oigo en la canción.
No creo en lo que toco o en lo que veo;
Sólo creo en lo que siento en mi corazón.

La vida es azul y roja como el cielo;
En su reflejo me baño, me mielo.
Tengamos menos dolor y más olor!

Olor de sudor, de cuerpos calientes;
Seamos en la lengua de amar fluentes.
Tengamos menos pudor y más amor!

La Vida y el Reloj

02/11/2014

La vida es como un reloj:
Miramos sus punteros,
Traducimos sus posiciones en horas,
Pero no lo vemos por completo;
No sabemos su funcionamiento,
Lo que se pasa adentro.

Él no trabaja solo;
Hay que tener mecanismos,
Engrenajes, péndulos.
Él se mueve internamente
Y su movimiento crea las horas,
Los significados.
Nos movemos con su movimiento.

Hay diversos tipos de relojes.
Hay los de arena,
Limitados por la cantidad
De arena que poseen.
Su duración es pasajera
- Como en los otros relojes.

Hay los relojes de sol.
Ellos solo funcionan durante el día.
Todos los días.
Cambian con las estaciones.
Cambian de forma.

Cuando sus punteros dan una vuelta completa,
Regresan al mismo punto del comienzo.
Una vuelta completa en los segundos,
En los minutos,
Las horas,
Los días,
Semanas,
Meses,
Años,
Vida.

La vida es como un reloj:
Hay diversos tipos
Y ellos pasan con el tiempo,
Sus punteros pasan con los segundos,
Minutos,
Horas.
Su existencia pasa con su significado,
Con nuestras visiones, nuestras lecturas.
Con el tiempo.

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Mar

29/10/2014

Sentar nas pedras quentes e olhar o mar:
Sinto como se estivesse em outro mundo;
Universo paralelo onde se encantar
É o único desejo profundo.

Desejo fácil de concretizar.
O som da água a dançar com o vento,
O cheiro, meus sentidos a ativar
As ondas e marés que eu tenho por dentro.

O vai-e-vem ondula minha essência,
Ameniza e conforta minha existência;
Me sinto parte do mar e muito mais!

Sou uma onda, um peixe em suas águas;
Sem temor, ansiedade ou mágoas.
Natureza é o princípio criador da paz.

terça-feira, 28 de outubro de 2014

De Onde Eu Vim

28/10/2014

Com tanto preconceito e discrimimação,
Não há alma que resista a essa peste.
Se de um lado há ódio e depreciação,
E do outro eu sinto amor e união,
Sorte a minha ter nascido no Nordeste!

Mas não compactuo com essa insensatez:
Eu quero é viver sob esse céu anil!
Nadar nos seus mares, banhar-me em cada rio,
Pisar nos seus solos, um pé de cada vez!
Sorte a minha ter nascido no Brasil!

Mas deixemos de lado essa ilusão.
Sabemos que lá dentro, bem lá no fundo,
Distante ou do seu lado, o outro é seu irmão;
Então para quê tanta segregação?
Sorte a minha ter nascido no Mundo!

Uma Tarde

27/10/2014

Numa tarde qualquer,
Sem nenhuma especificidade,
Seguia meu destino a pé,
Sem tristeza ou felicidade,
Quando de súbito eu vi:
O mundo que eu enxergava
Não era o que me rodeava;
Do meu rumo me esqueci.

Não sabia aonde ia,
Mas lembrei de onde vinha.
E como dedo sem mão,
Sentido sem direção,
Estava perdido.
Num espaço entre dois pontos
Que não se conheciam.

Quando se está sem rumo,
Não há sentido em se encontrar.
Não há significado.
Saber onde está,
Mas não saber aonde ir;
Saber aonde ir,
Mas não saber onde está:
Onde está a conexão?

Cada coisa tem sua função
- E seu caminho.
A água mata a sede,
O fogo aquece,
O Sol ilumina,
A lua se esquece.
O que falar da vida?

Esqueci de onde vinha
- Já soube algum dia? -
Não sabia aonde ia:
Era essa minha sina.
A sina da existência.
Existência refletida,
Refratada,
Raciocinada,
Insensata,
Sem sentido.
Uma flecha sem arco.

Teria a vida existência real?
Teria a existência real sentido?
Que equações poderia usar
Para responder essas questões?

A infinitude de minhas perguntas
Inundaram minha cabeça
E paralizaram meu corpo.
Não mais andava.
Não lembrava de onde vinha,
Não sabia aonde ia,
Não sabia por que eu era.
Mas quem eu era?

Eu era eu.
Mas poderia não ser.
Eu era.
Mas poderia não ser.
O que me definia como eu?
Minha mudança eterna
Permanecia.
Mas como ainda poderia ser eu?
O rio ainda era ele
Porque ficava no mesmo lugar.
O fogo ainda aquecia,
A água ainda matava a sede.
A chuva ainda caía.
Em mim, nada se mantinha.
Meu corpo não era o mesmo.
Tampouco minhas ações,
Meus átomos,
Meus pensamentos,
Meus sentimentos.
Como ainda podia ser eu?

Seria eu um aglomerado
De matéria, delimitado
Por um invólucro
Que chamo meu corpo?
Um invólucro mutável,
Inconstante,
Cujos limites e conteúdo
Mudavam?
Um saco plástico
Feito com matéria viva
Repleto de abstrações concretas...?

Poderiam minhas questões
Ser respondidas?
Chegaria a um resultado,
Uma solução ontológica?
Deveria suspender o juízo?
Ou me inquietar ad æternum?

Tornei a caminhar.
Encontraria meu rumo
Mesmo se tivesse que inventá-lo
- Poderia inventar,
Como poderia tudo ser minha invenção.
Caminhava e olhava o mundo
- E o mundo me olhava de volta.
Começava a me dissolver,
Dissociar minhas partes.
"Minhas".
Minhas dúvidas não poderiam me parar.

Bem-aventurado aquele
Que tem mais dúvidas
Do que certezas. 

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Dormir, Sonhar e Acordar

27/10/2014

Cores do nascer do Sol
Alvorada em minha vida
Cheiro verde do mar
Os pássaros a cantar
Felicidade a contagiar
Tristeza contida

O Sol a se deitar
Pássaros em seus ninhos
Lobos a uivar
Luzes do farol
Término do pôr-do-sol
Início do luar

Dormir é prazeroso
Sonhar é fantástico
Contigo é maravilhoso
Acordar é preciso
Você estando comigo
No pensamento é gostoso

sábado, 25 de outubro de 2014

Essência de Fada

25/10/2014

Seus cabelos esvoaçantes,
Delirantes, cantantes,
Turvam o ar à sua volta,
Curvam o reflexo das emoções.

Com suas asas transparentes
- Invisíveis para a maioria -
Só toca os pés no chão
Para sentir a conexão,
Pôr-se a dançar
E exalar poesia.

Com sua essência de fada,
Poetisa
- Ainda que não saiba -,
Profetiza:
"Venha para cá!
Seremos poetas
Novos românticos
Teatrais
Itinerantes!"
E assim será!

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Na Raiz Fecunda das Ideias

15/05/2014

Na pareidolia das formas cotidianas
Retumba, na flor das idades,
As infinitas possibilidades
Das traçadas linhas meridianas.

O restultado no mundo concreto
Dos inúmeros movimentos imaginários
É o mais completo abecedário
Do irrelevante, vislumbrante e abjeto.

Na raiz fecunda das ideias
Sobressai a arquitetura das colmeias
E a pujança das moléculas da miséria,

Pois nesse mundo tudo é fruto abstrato
Do fortuito princípio de maltrato
Da abiogênese da matéria.

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Ver-te-ei

22/10/2014

Agora, ver-te-ei amanhã.
Devo despedir-me, devo ir,
Mas mesmo tendo que partir,
Ver-te-ei à noite ou de manhã.

O horário do nosso contato
Pra mim é irrelevante,
Pois a qualquer instante
Pode se tornar um fato.

Sei o que importa realmente:
Seja ilusão da minha mente,
De meus desejos mais medonhos,

Mesmo se eu não te encontrar,
Se seu corpo não puder tocar,
Ainda te verei nos meus sonhos.

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Sol e Lua

20/10/2014

Quero ter um espaço em seu tempo.
Pertencer ao seu curso diário,
Ser palavras do seu dicionário,
Veias pulsantes de suas têmporas.

Ser um membro do seu instante,
Como os olhos de sua visão,
Paixões em sua revolução,
Sua translação constante.

Quero orbitar em seu sorriso,
Ser sua quinta dimensão,
O vazio em sua imensidão,
O sentido em seu ser preciso.

Quero ser seu sexto sentido.
Um método de ser hermético,
Para que o mais rígido cético
Aos seus pés tenha assentido.

Quero ter um tempo em seu espaço.
Divagar em seus planetas,
Ter um rumo aos meus cometas,
Um caminho ao meu passo.

Quero curvar-me em sua presença
Que distorce os caminhos da luz,
Avermelha os ceus azuis,
Quando seu brilho dá a sentença.

Quero preencher seu vazio.
Em seu universo ser errante,
Em sua espécie ser mutante,
Ser um astro sem luz e vadio.

Quero ser sua menor partícula.
De sua carne ser indivisível,
Ser um átomo invisível
De sua mais ínfima gotícula.

Ser calor em sua combustão,
A fricção do seu atrito,
O desgaste do seu detrito,
A entalpia de sua reação.

Quero ser sua relatividade.
Suas trocas de referencial,
O contexto social
De sua individualidade.

Quero ser o seu Sol.
E você, para meu barco,
Que seja uma meta, um marco,
Minha Lua e meu farol.

Que nossas paralelas se encontrem
No infinito de seu coração,
E que a mais sublime canção
Seja a que seus lábios cantem.

domingo, 19 de outubro de 2014

Amor e Solidariedade

19/10/2014

Em tempos de tanta discórdia,
Não sei onde fixar o olhar;
Na lamúria, na concórdia,
Ou nesse ódio no ar.

Conheço bem o meu caminho,
Mas quase perco a esperança;
Enquanto luto pela vida,
Pela consciência e pelo amor,
Tem gente sem nenhum pudor
Em lutar por sua própria pujança.

Gente me assusta...
Seus gestos, discursos, ações,
São claras constatações
De que aqui, o que anda solto,
O que passa pelo crivo humano,
Não é ajudar o outro.

É tanta dor e tristeza,
Que não posso parar de pensar
Que toda essa amargueza
Não pode vir da natureza.

É tanto sofrimento,
E ainda muita dor...
Em época de ódio,
Que vença o amor!

Mas o amor, assim, sozinho,
Não gera transformações.
Para achar um novo caminho,
São necessárias ações.

E toda ação tem ideologia.
Espero que o que busquemos
Represente o que queremos:
O poder vindo do povo,
O olhar a quem está do lado,
E que ele possa ser amado
- É nesse rumo que me movo.

Tem muita injustiça,
E tanta desigualdade...
Em época de ódio,
Que vença a solidariedade!

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Ajehecha

Escuto no fundo do
ouvido doído do
grito do mito do três,
o grito profano, profético,
poético
do tudo e do nada.

Se ando em o's
ou em oitos, não importa!,
mas do coito com o nada
encontro tudo
e tudo tanto quanto
é falado
é tanto que tão grande
três suporta o tudo
como o nada.

O conjunto é o que importa!
E se uma linha torta (curva)
se curva, entorta o nada a tudo
e terra e ceu,
três e um se encontram
e cantam a uníssono
e nada mais importa.


ps: Acredito que esse poema foi escrito em 2009, mas não sei ao certo, porque na época ainda não tinha a prática de anotar a data. Ele carrega uma diferença estética dos escritos hoje em dia, principalmente por começar versos com letra minúscula (o que era comum antigamente nos meus poemas) e também pela letra, mas esse fator só se percebe olhando meu caderno. Naquela época minha letra tinha um traço um pouco diferente. Um outro fator especial é que ele tem umas quebras de ritmo entre os versos, o que não é comum nos meus poemas, creio. E é um dos poucos que eu lembro de cabeça.

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Longe

01/10/2014

Tão longe do toque de minha pele
E do alcance de meu olhar.
Distante do desejo que fere
E dos passos do meu caminhar.

É uma pena que o som se perca...
Senão elevaria minha voz,
Romperia todos os nós,
Destruiria todas as cercas,
E meu grito incessante
Penetraria os sentidos,
Com um vigor flamejante,
E alcançaria seus ouvidos.

Venceria a barreira do som
E a velocidade da luz,
Só para ver do seu olho o tom
E sentir seu gosto doce de alcaçuz.

Apesar de sua figura nos riscos
De minha retina estar ausente,
Afirmo, sem correr quaisquer riscos,
Que no olhar da minha mente,
Nos escritos de minha lembrança,
Com a mais absoluta pujança,
Você está ao todo presente!

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Sonhomar

08/09/2014

Quero me afogar nos meus sonhos.
Sugar para os meus pulmões
- Como balões a vácuo -
Moléculas de fantasia,
Para que, ao ser reanimado,
Possa arrotar bolhas de felicidade
E cuspir goladas de simpatia.

No Mundo da Lua

13/10/2014

Enquanto estou acordado,
Com o corpo no mundo real,
Tento parecer um normal
(Isso fica acordado),
E ficar o mínimo possível
No mundo do impossível.

Mas a verdade é que
Não importa o quanto eu tente,
Nem tampouco que me lamente,
Mas o que se passa aqui
Não é o que se passa em minha mente.

Divago muito em minhas ideias.
Vivo no mundo dos sonhos meus,
Onde nada ainda aconteceu
(E, é provável, não acontecerá).
Não sei viver numa colmeia,
Onde só regra é o que há.

Imagino situações
Desilusões e conversas.
As possibilidades mais diversas
Para mim são ocasiões
De deixar o pensamento fluir
E o muro da realidade ruir.

Entro tanto em meu pensamento,
Que esquecer o mundo à minha volta,
O que me encanta ou me revolta,
Acontece a todo momento.
Transporto o sentimento
Para o que vem de dentro.

Mas nem sempre é bom
O que vem de dentro pra fora;
E às vezes o que me aflora
É um desagradável tom
De minha infelicidade.
Da melancolia a intensidade.

E não consigo me conter.
Mesmo quando as divagações
Não passam de constatações
De minha tristeza interna,
Não consigo me deter
Em pensar que essa agonia
No formato de alegoria
Me parece coisa eterna.

Não é bom sonhar demais.
Tudo tem a sua hora,
E se sonho tanto agora,
Talvez depois não sonhe mais.

domingo, 12 de outubro de 2014

Desvendando o Mistério

12/10/2014

"Por que tem escrito tanto?
O que mudou em sua vida?
Sei que já escrevia, no entanto
Agora parece que algo te convida."

Ora, essas coisas não se explica.
O que você quer saber?
Se minha escrita se intensifica,
É porque me inspiro em você.

Desvendou o mistério?
Seu brilho me cativa;
E o que penetra meu império,

Os ventos que me brisam,
E minha pulsação ativa,
São seus olhos, que me hipnotizam.

Ser e Sentir

11/10/2014

Quero sentir o seu sabor,
Quero sentir a sua carne,
Quero sentir a sua dor
E que seu peito me encarne.

Sob a luz da Lua cheia,
Gozar dos seus hemisférios,
Desvendar os seus mistérios,
E num sentido menos etéreo,
Ser o topo de sua cadeia.

Ser iluminado e me transformar,
Me transfigurar,
Mudar de forma, mudar de nome,
Me alimentar de seu corpo
De ninfa, de sereia.
Seja minha Lua cheia,
Que serei o seu lobisomem.

Quero sentir o seu calor,
A doçura dos seus mares.
Quero te fazer sentir dor
Na pele, na carne, nos luares.

Na escuridão da noite,
Ser seu brilho, ser sua luz,
Ser o sonho que te seduz,
Seu escravo, seu açoite.

Sentir o seu pescoço,
Suas orelhas e ombro.
Suas retas, suas curvas,
Suas sombras.
Suas veias entre meus dentes,
O som do seu suspiro.
Seja minha flor da noite,
Que serei o seu vampiro.

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Planos Astrais

10/10/2014

Nos meus quasares introspectos,
As confluências dos fluidos internos
Reagem exotermicamente
Com os seres elementais externos.

Os astros me influenciam.
A luz dos meus membros,
O brilho do meu olhar,
Se cativam, se contagiam
Com os movimentos dos centros
Do espaço supralunar.

E os meus passos solitários
Me levam ao mistério,
Ao desconhecido,
Ao labirinto do fauno,
Às festas das fadas,
E à perdição completa.

Confundo presente e ausente.
Minha imaginação me transporta,
Abre as portas da percepção.
Como um verdadeiro pisciano,
O corpo na Terra
E a mente nos planos astrais.

Misturo o todo e a parte.
Sou uma metonímia ambulante.
Minha sensibilidade me transporta,
Abre as portas da intuição.
Como um verdadeiro pisciano,
A vida na Terra
E o corpo nos planos astrais.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Extraplanetário

11/02/2013

Sou um ser extraplanetário.
D'onde eu venho não há espaço,
Nem tampouco horário;
Não há qualquer cangaço,
E nenhum proletário.

Venho de nenhum e de todo lugar,
E quando eu falo, não é de mim que sai a voz.
Na qualidade de ser extraplanetário,
Me dou o direito de livremente pensar,
De ser ao mesmo tempo riacho e foz,
Vento e brisa, vítima e algoz,
E de ser sempre e nunca solitário.

Sou um ser extraplanetário.
Quando vejo meu corpo,
Não me vejo verdadeiramente.
Meu corpo não é meu.
E eu não sou o meu corpo.
Nada que me ronda é meu,
Mas vivo tudo plenamente.

Nada do que vejo nesse mundo me pertence,
Mas eu pertenço por inteiro a esse mundo
E a todos os outros que possam existir.
Quando não sou visto aqui, estou n'outro lugar,
Mas estou também aqui (que fique o suspense).
Minha existência não possui um fundo:
Ao fim de meu corpo, minha essência vai persistir.

Sou um ser extraplanetário.
Não vivo só nesse agora:
Sempre existi e eternamente
Existirei. Para mim
Não há fronteiras lá fora.
Sinto incondicionalmente
E vivo a Beleza-sem-fim.

domingo, 5 de outubro de 2014

Escrever Livremente

04/10/2014

Assumindo o compromisso
De mostrar meus poemas,
Ainda conseguirei escrever livremente?
Sim, tudo pode gerar um poema...
Mas nem tudo gera.
Menos ainda os meus.

Meus poemas
São faces de minha alma,
São reflexos de minha vida,
São refrações múltiplas
Nas interfaces de minhas camadas.
Múltiplas camadas.

São cores de minha áurea transparente.
São os chifres de minha auréola.
São minhas asas.

Como então escrever livremente?
Afinal, para quem sempre escrevi?
Poemas são cartas sem destinatário.
(Nem sempre)
Por vezes sem remetente.
Ou sem assunto.
Sem assinatura,
Saudações,
Despedidas.

Que o remetente se nos mostre
E que os destinatários se destinem:
Eis a graça da poesia.
A divina comédia poética.

Não existem linhas tortas na poesia,
Pois não existem linhas retas.
São todas linhas.
Apenas.
Grafadas com sangue.
E o que há no sangue para ser visto?
São todos vermelhos...
Mas suas células mudam.
Seus fluidos não são os mesmos.

Me dou o direito
De continuar escrevendo
Da forma que melhor me convir.
Me dou o direito
- Enquanto ser de sangue vermelho -
De manchar o papel
Com escritos
- De sangue.
De continuar a escrever livremente!

Cântico

30/09/2014

Não me refiro ao amor ideal,
Nem à existência do par perfeito;
Mas sim a algo muito mais real,
Que é aquilo que bate em meu peito.

Entendo bem o que você quer dizer.
Aquele típico amor fantasioso
Não deixa de ser muito mentiroso,
E ficar nessa ilusão não é viver.

Mas o sentimento existe e está desperto.
Pode não ser fantástico, mas é poético;
E meu peito, de fluido magnético,
Às forças do seu ímã está aberto.

Que não seja eterno, pois tudo muda;
Mas diante de ti a boca fica muda
E do coração emana seu cântico.

É de fato disso que eu quero falar.
E se eu disser que quero te encontrar,
Dirá então que estou sendo romântico?

sábado, 4 de outubro de 2014

Verbo

22/09/2014

Quero cegar-me em seu olhar.
Nadar nos seus cabelos,
Eriçar-me nos seus pelos,
Beber a água salgada do seu mar
Até cansar.

Quero perder-me em suas curvas.
Ser as linhas de sua mão,
Os sonhos de sua ilusão,
Os sinais escritos no ar
Por suas mãos surdas.

Quero ser o seu silêncio.
Navegar na sua voz,
Do seu rio ser a foz,
Da escuridão o luar,
Com um brilho imenso.

Quero cheirar seu pescoço.
Degustar seu suor,
Do seu laço ser o nó,
Dos seus pés o caminhar,
Da sua carne ser o osso.

Quero vestir-me com seus beijos.
Sentir embaixo da pele
Um regozijo que mele,
Sem que eu possa me importar
Com meus desleixos.

Quero seu recanto ébrio.
Quero sentir em seu desejo
Tudo aquilo que almejo,
Para que então amar
Possa se tornar meu verbo.