domingo, 27 de março de 2016

Cereja

26/03/2016

Toque em meu peito
e sinta meu coração que bate.
Em seu ritmo cadente, o segredo de tudo.
O toque da serpente
e o veneno em minhas veias.
Mares salgados de minhas areias.

Enredado em meus cantos,
sou terra molhada
metamorfoseada em meu casulo.
Enclausurado em mim, fico mudo.
Escuto o brilho lunar,
me deito e me sirvo.
Pegue em meu pulso
e veja que ainda estou vivo.

sexta-feira, 18 de março de 2016

Veias Saltadas

17/03/2016

Não há mais estrelas no céu,
mas nada mudou:
pássaros reinam, pastos e balas.
O sino tocou.
Acabou o recreio.

Foice, estribo, martelo, bigorna:
surdos e cegos seguindo o capitão.
Ou panelas, apitos, gritos, rojão.
Cachorro pulguento, fascista, machão.
Enjoo, náusea, vômito, enxofre, vulcão.
Que o fogo venha de quem tem pés no chão!

Que não seja segunda, nem terceira via!
O desespero nos acode,
a esperança nos socorre,
e no fundo uma voz que berra, mas não corre:
Anarquia!

sábado, 12 de março de 2016

Um Quarto de Vida

12/03/2016

Meu peito dói e eu quero uma solução.
Uma tosse para expulsar
o que me corroi por dentro;
lágrimas para lavar tudo que há em mim.
Será assim ser um cometa em combustão?

Em meu quarto, chuva e solidão.
As paredes não parecem conter
o que vem de fora.
Espero o quarto alagar,
e o medo de me afogar
me faz deitar no chão.

"Será arte?"
Não sei, não.
Mas a vida está aí,
e o terror faz parte.
Uma vida na Terra
ou uma morte em Marte?
Abro meus olhos.
Um trovão faz tremer o chão
(e meu coração).

Medo de Trovão

11/03/2016

Nem sempre estou preparado para chuva.
Em meu deserto pessoal
a chuva molha, encharca, alaga.
Congela meu coração de pedra mole.
Que sorte!
Que forte o vento e a brisa!
Não sei se corro risco
ou se o risco me socorre.

Das infinitudes da vida,
a mazela de ser o que se é.
Nunca se sabe o que cabe.
Vai vendo,
que nem todos nós
podemos ser a causa de tudo.
E quando não somos a causa de tudo,
nos sentimos um nada sem causa;
a causa de nada.
à cause de rien
grace à dieu

Na rua deserta só quem fala é a chuva.
E os riachos urbanos
fazendo sua viagem.
Um brilho oculto no céu
e na nuvem cinza uma mensagem.
Buen camino.
Que me reste uma flor
para onde eu for.
E quando cessarem minhas consequências,
que minhas últimas palavras sejam de amor.

segunda-feira, 7 de março de 2016

A Sip of Bloom

07/03/2016

A glimpse of light
and the waveprint of the dawn:
the end of an endless night,
hope as the world goes bright
and vanish the stars that were shown.

Sleep I could, I should or I might,
but since I've been granted the gift of sight,
leaving the sorrowest dark of the room,
I turn my reddish eyes to a bloom
and surrender, defeated in this fight.

How good, worthy, peace of mind!
I've seen, I've shone and I'll shine,
although the world may not recognize.
And as to my heart and its size,
it is not more theirs than it is mine.

And as the time passes, comes the noon;
I recall it will be dark soon
and we'll be able to see the moon.
A simple sip of tea
and a hearty health to thee.