sábado, 31 de janeiro de 2015

Paciência

31/01/2015

O que tem a beleza, que nos atrai?
E o que tem a praia, que traz tanta paz?
Um silêncio sonoro.
E o silêncio é sagrado.
E esse cheiro...
Um cheiro colorido.
Na linha do horizonte, que separa o sutil do profundo,
para que eles se reencontrem.
As nuvens das ondas, para que se reflitam mutuamente.
Os graus de verde e azul que se confundem
e se convergem em uma coisa só,
que é tudo.
Pois tudo está no nada.
Em nadar.
Nademos.
Banhemo-nos.
Lavemo-nos para sermos abençoados.
Para sentirmos a paz das ondas,
do ciclo infinito,
da ascensão e queda;
nascer e quebrar,
para morrer e renascer na mesma essência,
que sobrevive.
Ondulo com o mar e me queimo na areia.
O Sol me segue em todo lugar
e, a noite, sou invadido pela Lua,
que povoa minha fronte.
Circulo como circulam as ondas
e sinto o vento me chamar:
"Vem pro mar. Vem pro mar."
E eu vou.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Visions of the Night

27/01/2015

To enlighten the truth shown in your eyes,
I must look through, beyond what you say.
Since our thoughts are filled with constructed lies,
The image in a mirror is what we display.
How can you solve this problem that you brood?
In order to finally find some delight,
You must give up light, give up your senses,
Abandon hope, lose all your defenses,
Shatter your mind and feel some of your blood,
And then surrender to the visions of the night.

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Fração

27/01/2015

Tenho meus momentos de isolamento,
de querer me afastar, para me unir comigo mesmo.
Passo dias só lendo e escrevendo.
Meu contato com pessoas se resume ao obrigatório,
às atividades diárias que temos que fazer,
às interações necessárias.

Às vezes até saio.
Mas fico sentado no meu canto.
Converso o mínimo possível
- só quando sou forçado -
e fico com o olhar perdido, focando em
alguma árvore, vendo suas folhas dançando.
Se possível, tento ouvir o barulho das folhas.
Outras vezes vou para um canto mais recluso
(mais escuro),
onde ninguém me incomode.
Prefiro interagir com seres menos verbais,
que falem menos de trivialidades,
de dinheiro, de carro, de trabalho, de romances.
Prefiro falar das cores.
Dos sons do mundo vivo (de verdade).
Da beleza do mundo morto (de mentira).
Quando fico um tempo olhando uma árvore,
passando minha mão em seu tronco, em suas folhas,
acham que enlouqueci.
Devo ser louco, mesmo, porque esse "mundo humano"
me parece mais fantasioso que meus sonhos.
A verdade está nas nuvens.
E na terra que nutre as plantas.
Na água do rio que deságua no mar.
E no fogo, que mata, morre e transforma.

Nunca entendem quando fico olhando a Lua.
Sou fascinado por sua beleza.
Suas transformações me encantam.
Suas fases me relembram a natureza das coisas.
A natureza mutável das coisas.
E tem gente que diz que a Lua não tem vida;
que sua luz não é sua.
Ora, quanta ignorância.
A luz é tanto dela quanto nossa vida é nossa.
E garanto que a Lua tem mais vida que muita gente.
Quando converso com a Lua, me chamam de louco.
Quando ela responde, não conto a ninguém.
Eu queria ser parte daquele brilho
que a Lua cheia deixa no mar.
Morrer quando a Lua se fosse,
pois sem ela o mundo é só metade,
assim como eu.

Sou metade. Só metade.
Porque ser completo é difícil demais.
E quanto mais vivo no "mundo humano",
mais essa metade diminui.
Sou um terço. Só um terço.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Seu Caminho

O mundo ria.
E ele ia caminhando de levinho,
com passos quase tortos
(quase mortos),
que não deixavam pegada.
Será que ele ouvia?
Será que entendia a risada do mundo,
a gargalhada de vida morta?

Ainda assim ele andava.
Andava como se fosse esse seu único destino.
Andava como um moto perpétuo,
como se seu passo fosse combustível para si mesmo,
como se tivesse um ímpeto próprio,
que ultrapassasse seu próprio caminho.
Seu caminho...

Em suas mãos não carregava mapa.
Em sua memória não havia vestígios de seu rumo,
do seu destino.
Mas seu destino era afinal caminhar.
Caminhar seus passos pelo mundo,
roçar seus pés calçados sobre a terra.
Ser os dedos das cócegas
- o mundo ria -,
a unha do arranhão.
(unha lixada. arranhão sem marca)
O mundo ainda ria.

Mas seus passos prosseguiam.
Incólumes.
Impassíveis.
Inatingíveis.
Era seu destino. Seu caminho.
Sua coluna vertebral invertebrada.
Sua lordose.

Ele tinha uma pitada de sal em sua pele
- uma dose de ácido em seu coração.
As ondas que ele sentia eram só de calor
- ou de loucura, não se sabe ao certo.
E seus olhos viam o que não se vê
- e deixavam de ver o mundo.

E ele caminhava.
Seus passos seguiam o caminho
- e o caminho seguia seus passos.
Caminhava como um morto perpétuo.
Não sabia seu destino, não sabia nada.
Caminhava.
E caminhará até a morte.
(o mundo ria)

Afinal, de quem eu falo, me perguntas?
Ora, de Ninguém, posto que Ninguém
vive nesse mundo.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Agrafia

21/01/2015

Não olhe para mim, não me pergunte nada,
pois não tenho nada a dizer.
Quando era mais novo,
achava que só deveria abrir a boca
se fosse falar algo que merecesse ser ouvido.
Ora, é muita prepotência achar que tenho algo a falar
- algo que merece ser ouvido.
Meu canto torto é uma faca cega
- no máximo uma pena envenenada.
O mais prudente seria jogar a pena fora
e desenvolver uma afasia autoprogramada.
Virar um cão.
Beber em poças de água no asfalto.
Comer lixo da rua.
Ser chutado por transeuntes.
Lamber minhas feridas.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Conversa de uma Sexta com Cara de Domingo

16/01/2015

Deus,
Me empresta um pouco da sua paz.
Esse mundo tá louco demais
E eu não consigo achar explicação.

Deus,
Essa vida tá mesmo difícil.
Estamos à beira de um precipício
E eu não vejo solução.

Deus,
Abra a minha mente.
Por aqui eu ando doente
E não vejo a salvação.

Deus,
Talvez eu tenha achado a cura.
Para sobreviver a essa loucura,
Me dê mais um coração.

domingo, 11 de janeiro de 2015

River of Life

11/01/2015

Within the river of life I lie,
Surrounded by flesh-eating fishes and rocks,
Wondering whether as a farm ox
My destiny is to serve and die.

May I request any more
Of the materials which can float
So then I can build a boat
For my arms and legs are sore?

Go on. You may my requests ignore.
That is what my arms and legs were built
For; now my emptiness is filled with guilt
And my beliefs and hopes were washed ashore.

What am I supposed to look for?
With all this pain that I feel,
I wish my heart were made of steel
And I could only listen to Nature's roar.

I search for something I can never find:
The reason why this river feels like fire.
And to vanish is the single worst desire
That day after day crosses my mind.

I want to leave this water behind
And search for some hope to guide me ahead,
Because the rocks that now hit my head
Are made by the hatred of mankind.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Eu Preciso Aprender a Ser Sol

09/01/2015

Eu queria ser o Sol,
pra morrer a cada dia
e todo dia nascer de novo.
Já imaginou como seria?
No meio da escuridão
fazer raiar o dia;
no seio da solidão
ser o brilho que irradia.

Eu queria ser a luz
que do branco vira verde;
o calor que do fogo
gera a  vida.
Imagine se mesmo distante,
longe, tão longe,
eu pudesse brilhar no seu rosto.
Ser aquele calorzinho
que esquenta a bochecha.

Eu queria ser o Sol
pra brincar com a melanina.
Morenar as costas,
enrubescer o rosto.
Arder na pele,
secar o corpo:
para isso eu serviria.

Imagine como seria,
se meu toque, meu toque ardente,
fizesse a neve dereter;
transformasse o floco de neve,
com toda sua arquitetura,
numa gota d'água,
em sua esfericidade divina.

Eu queria clarear o dia,
e que o dia fosse definido em mim.
Imagine como seria:
quando eu saísse, anoiteceria;
quando chegasse, só alegria!
A praia, o rio, a cachoeira...
Se eu fosse o Sol,
felicidade,
toda chuva teria arco-íris.
Seria sete, e não um,
porque um é limitado.
Imagine se eu fosse feito de cores...!

Sabe aquele azul do mar?
O verde das plantas?
Aquela corzinha toda própria do seu olho?
Tudo eu.
Mas não sei, não.
Ser o Sol é querer demais;
é muita megalomania pro meu coração.
Acho que o Sol não seria, não.

Acho que tenho um pouco de Sol em mim
- e ainda mais da Lua.
Aquelas quatro estações,
as quatro fases,
tenho tudo isso em mim.
Mas não sei, tem também uma coisa ruim.

Eu queria ser o Sol,
mas o Sol não serei, não,
pois não gosto do sofrimento
que ele causa no sertão.
Mas já sou um pouco disso tudo aí:
branco, verde, azul,
sete, quatro, um,
vivência e ilusão.
Acho que vou ser eu mesmo.
Deixar pro Sol a iluminação.

domingo, 4 de janeiro de 2015

Água e Fogo

03/01/2015

Também quero motivo pra ir embora.
Alguma coisa deve me chamar de volta,
mas quando me despeço é com a linha torta
e com um peso no coração.
Como entender essa sensação?
Enquanto uns vivem no futuro,
meu saudosismo exacerbado
me faz viver no passado
e esquecer meu lugar no mundo.

Sou um portal no espaço-tempo.
Um toque discreto dos dois triângulos
no olhar da mente;
o brilho do Sol na Lua;
o vazio da escuridão.
As pegadas nas minhas nuvens estreladas
são aquelas feitas por fadas
- as reais, mesmo,
mas também as dos planos divinais -,
mas isso não quer dizer nada.

No meio do barulho se esconde o silêncio.
(E no meio do silêncio, confusão)
Devo partir.
Caminhar meus mais novos passos,
viver minha mais nova ilusão;
para, num momento de contemplação,
perceber que nunca saí daqui.

Daqui não saio água:
Saio fogo, raio e trovão.

Cinza e Verde

30/12/2014

Quando o cinza penetra meus olhos
E o verde se perde em meu peito,
Perco contato com os ancestrais
E não consigo enxergar direito.

São dias turvos com a mente fechada,
E o corpo aberto aos males do mundo.
No meio desse horror de fachada
Não tenho qualquer pensamento profundo.

Nessa escuridão me sinto torto
E perco toda a minha calma.
A cidade é grande demais para meu corpo
E pequena demais para minha alma.

Quando o verde volta a brilhar
E o Sol a bater em meu peito,
Me ponho então a contemplar
O mundo como um grande feito.

Me banhando nesse mar de beleza
Posso ver além do vivo e do morto;
E tudo que existe na natureza
Revive aqui, aquém do meu corpo.

Do alto tudo parece mais real
De um jeito irreal que me acalma.
A montanha é do tamanho ideal
Para conter meu corpo e minha alma.