terça-feira, 12 de junho de 2018

Essência e Evanescência

11/06/2018

Mergulhado nos rios que percorrem minhas veias,
dissolvo minha mente por completo
e me torno fragmentos de mim mesmo.
Minúsculos grãos de mim
desaparecem em minhas águas
e completo minha metamorfose
como um grande fluido de eu em mim.
E minha correnteza vermelha
trafega por entre os obstáculos do caminho.

Sigo acompanhado de meu eu dissolvido
e de meu único desejo:
desejo de aflorar.
Aflorar.
Para que meus odores viajem livres pelos ares
e se confundam com os odores do mundo.
Que gostoso seria se minhas cores
alegrassem meus arredores..
Se minhas raízes não me prendessem ao solo,
mas me dessem firmeza
para que as pétalas pudessem vagar.
Pétalas vadias policromáticas.
Queria que abelhas me procurassem,
para que germinassem outras de mim,
que não seriam eu.

Mas sou rio.
Fluir é o cerne de meu ser.
E o desejo que eu posso ter
é que no meu trajeto ao mar
eu possa inspirar quem quiser sonhar
e que os outros venham a mim ao menos para beber.

quinta-feira, 29 de março de 2018

Palavra É Existência

29/03/2018
A Gabriela de Assis Costa Moreira

Um dia vivi um mundo que já sonhei.
Tudo se repetia:
os olhos,
as falas,
o tempo.
Palavra é existência.
Sonho também.
E entrei naquele mundo que não era meu
(e era meu também)
e fui muito mais do que apenas sou.
Inundado em uma existência revivida,
chorei.
Materializei a palavra não falada.
Sonhei com campos,
irmãos
e histórias.

Conheci quem eu sempre quis ser.
Da Namíbia, o Sol brilhou em mim.
E eu sorri.
Enfim, sorri.
Me senti Zumira.
Aurora é o tempo.
E é minha mãe.
E é o tempo
que chega para todo mundo.

Aquele sonho acabou,
mas vieram outros depois.
Um outro dia,
disse,
serei leoa.

quarta-feira, 7 de março de 2018

Vida, Morte, Renascimento

(07/03/2018)

Outro dia sonhei um sonho real.
Um pesadelo que não sai de mim.
(Ou eu não saio do mundo dos sonhos?)
Suponho
-- mas não sei de nada mesmo --
que sou na verdade um sonho.
Preso no cinza do concreto.
Tão discreto que mal me reconheço real.

Já sonhei ser um peixe.
Mas hoje sou cogumelo.
Quando morrer, o que serei?
Cinzas do mundo em chamas
se espalham sobre meu chapeu.
Me selo com o espectro reluzente do mundo.
Calo minha voz rouca
ante ao som desgastante das máquinas.
Não quero ser máquina.
NÃO QUERO SER MÁQUINA!

Espalho meus esporos pelo mundo
enquanto ainda tenho forças ao anoitecer.
A vida me sufoca, mas sou sonho que não entorta.
Sou linha torta.
Flor que nasce no concreto cinza.
Energia que emana do Sol amarelo.
Cogumelo.
Vida, morte, renascimento.
Lembro disso a todo momento.
Sonho vivo, torto, belo.
Cogumelo.