quarta-feira, 30 de novembro de 2022

Arma-me

30/11/2022


Saca-me

Sarra o torso torpe

Torce

Agarra o cabo

Carrega o fardo

Move


Explora a sorte

O calor contaminado

Juízo alado

Pequena morte


Arfa-me

Suga-me o ar

O sangue

O jorro

O fogo-a-jato

O laço

Apaga-me


Afaga-me

Afoga-me

Em seu carinho

Roda mundo

Rodamoinho

Sem solução


No vasto mundo

Soluço

Inundado

Afogado

Resfolegado

Boiando no mar

Chegando a hora de zarpar

Sem anos de solidão

sábado, 3 de setembro de 2022

Amiúde

03/09/2022


Suspiros de noite e de dia.

Olhos abertos, despertos na fantasia

de sentir e ser.

Por dentro, a chama incessante

que só faz crescer.

Por fora, montanhas galgáveis,

cavalgáveis, para subir e descer.


Um rio escorrendo apresenta o caminho.

Nadar e ser embebido, dissolvido

na cachoeira do prazer.

Perder-se no escuro e perder os sentidos,

ouvindo só o que a alma tem a dizer.


Efervescer o ser e sublimar.

Dormir desperto e sonhar

com o mundo caindo de suas beiras.

E quando o corpo todo falhar,

deixar a mente subir às estrelas.

quarta-feira, 20 de julho de 2022

Sono sem Sonho

20/07/2022

 

A força do dia a dia

camufla as cores do mundo.

Sentado em meu canto sozinho,

cansado, observo tudo

com meu olhar daltônico.


Um sono sem sonho

é como estar acordado.

Os olhos ardidos,

a boca seca,

a faca cega.

Sossega esse peito, menino.


Colírio.

Lavar a alma com lágrimas

e terra.

Pé no chão, corpo nas nuvens.

Delírio.

Nós que desenrolam(os) em fios

cortantes.

Mente amolada,

faca.

Sede de fazer o sangue ferver.

Já posso voltar a sonhar,

mas sem esquecer de viver.

quarta-feira, 27 de abril de 2022

Nanopotente

27/04/2022

 

Em meus sonhos posso voar.

Que alegria seria

se em realidade ou fantasia

fizesse o que posso, ao sonhar.


Mas meu corpo vive no mundo real;

sem asas,

sem forças,

sem mãos a me levantar.

Minipotente.

Descrente no fututo

aonde vamos chegar.


Enquanto o sertão não virar mar,

um deserto cinzento é meu chão.

Caminho, sob o sol escaldante,

mirando uma miragem

deveras distante,

mas sem sombras de satisfação.


Esta ilha me devora.

Sendo o futuro incerto,

procuro me manter desperto

à procura de uma aurora.

... mas que demora!

Agora, só resta olhar à frente

- micropotente -

porque atrás vem gente

e não há tempo a perder.


Sou o que sou,

mas quem sou eu de fato?

Sem digitais, sem tato,

esqueço o que sei de mim.

Afinal, o que tenho a dizer?

Nesse mundo não sei voar,

e, enquanto não puder sonhar,

só me resta viver.