quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Seu Caminho

O mundo ria.
E ele ia caminhando de levinho,
com passos quase tortos
(quase mortos),
que não deixavam pegada.
Será que ele ouvia?
Será que entendia a risada do mundo,
a gargalhada de vida morta?

Ainda assim ele andava.
Andava como se fosse esse seu único destino.
Andava como um moto perpétuo,
como se seu passo fosse combustível para si mesmo,
como se tivesse um ímpeto próprio,
que ultrapassasse seu próprio caminho.
Seu caminho...

Em suas mãos não carregava mapa.
Em sua memória não havia vestígios de seu rumo,
do seu destino.
Mas seu destino era afinal caminhar.
Caminhar seus passos pelo mundo,
roçar seus pés calçados sobre a terra.
Ser os dedos das cócegas
- o mundo ria -,
a unha do arranhão.
(unha lixada. arranhão sem marca)
O mundo ainda ria.

Mas seus passos prosseguiam.
Incólumes.
Impassíveis.
Inatingíveis.
Era seu destino. Seu caminho.
Sua coluna vertebral invertebrada.
Sua lordose.

Ele tinha uma pitada de sal em sua pele
- uma dose de ácido em seu coração.
As ondas que ele sentia eram só de calor
- ou de loucura, não se sabe ao certo.
E seus olhos viam o que não se vê
- e deixavam de ver o mundo.

E ele caminhava.
Seus passos seguiam o caminho
- e o caminho seguia seus passos.
Caminhava como um morto perpétuo.
Não sabia seu destino, não sabia nada.
Caminhava.
E caminhará até a morte.
(o mundo ria)

Afinal, de quem eu falo, me perguntas?
Ora, de Ninguém, posto que Ninguém
vive nesse mundo.

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