quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Parte de miM

25/12/2014

Eu nem sei do que sou feito agora.
Nem o que é feito de mim.
Meus poemas já falam um tanto do que eu sou
e mais ainda do que não sou.
Do que seria,
posso vir a ser
e nunca fui.
Mas já fui tanta coisa que nem lembro.
A memória também é uma coisa sobre a qual me debruço,
mas não entendo.
Vejo do alto,
de longe,
e só o eco me responde.
Memória e criação: como distinguir?
(Existe distinção?)

Tenho um pouco desse azul em mim;
esse azul de qualquer poesia,
e alguma coisa de esquizofrenia.
Uma comunhão entre realidade e fantasia;
nunca se sabe o que é o quê.
Nem quem é quem.
Mal sei se eu sou eu mesmo.
(Nem sei definir quem é esse "eu",
esse pedaço de matéria aglomerada,
essa coisa mutável na existência)

Me defino pelo azul do céu,
mas mais ainda pelo azul do mar.
Mas pode me enxergar como quiser,
porque nem eu me vejo diretamente.
O espelho fala menos de mim que a Lua.
E o Sol é o fogo no meu peito.
(Aquele que queima sem tocar, sabe?
que deixa uma mancha no olho,
aquela mancha que segue nosso olhar)

Sou pedra
aquela pedra que quebra a onda
e quebra na onda
vira pozinho
farelo.

Sou um pouco de farelo;
poeira cósmica.
Parte de mim é isso.
.a outra parte não está em miM
O resto, nem sei.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Feito

22/12/2014

Sou feito de carne e ossos,
De pensamentos e sonhos.
Sou um misto de real
E complexo, imaginário.
Sou uma metamorfose
Fantástica, gente-fada.

Se eu não fosse desse mundo,
De outro mundo então seria;
Com carne, ossos e pele,
Ou, quem sabe, nada disso.
Seria assim, diferente.
(Ou, quem sabe, nada disso)

Carrego em mim tudo que me representa.
(E um tanto mais que nada tem de mim)
Um pouco daquilo que me contenta
E um tanto disso que me deixa assim.
Independentemente de ser mandado às favas,
Tudo que existe (ou não) me inventa.
E se eu fosse então feito de palavras,
Que poesia seria de mim?

sábado, 20 de dezembro de 2014

Disposição

19/12/2014

Eu poderia morar aí:
Tremer com o frio do inverno,
Suar com o calor do verão,
Chorar com as folhas do outono
E sorrir com as flores da primavera.

Eu poderia morar aí,
Mas nada seria diferente.
(Tampouco seria igual)
Me banharia em águas
Que já passaram por aqui.
O vento que me acariciaria o rosto
Teria as moléculas que me cumprimentam aqui.
O Sol que faria a Lua brilhar
Seria o mesmo que aqui me arde nas costas.
Minhas palavras seriam outras,
Mas minha voz seria a mesma.

O que mudaria?
As pessoas?
Você pode dizer que aí elas são como a neve.
Ou que mudam com a estação.
Pois aqui elas são como o Sol:
Brilham no mar, dão vida às plantas,
E racham o solo do sertão.
O que importa não é nada disso,
Nada do que podemos sentir com os olhos, com a mão;
Somente o que passa em nosso coração.
E para mudar, querida, basta ter disposição.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Sonhos e Planos

15/12/2014

Para que conversamos,
Se já tivemos essa conversa
Em outros planos?
De que importa o que vamos viver,
Se já vivemos tudo em nossas mentes?
Me pergunto quanto do que vivemos
(Internamente) compartilhamos.
Muito, penso eu.
Mas só penso o que meus sonhos me dizem.

E falam até demais!
São as criaturas dando conselhos ao criador.
(Às vezes me questiono se não é o contrário)
Em diálogo com meus sonhos,
Eles monologam. Me modelam.
Me dizem quem sou e quem seria.
E quem somos.

Meus planos
(Aqueles mais escusos)
São infalíveis em sua falibilidade.
Mas às vezes dão certo,
Nem que seja nos meus sonhos.
(Será que um dia conhecerei seus pesadelos?)

Naquele dia que nossos olhos se cruzaram,
Que fomos apresentados,
Que demoramos para dançar,
Comecei a sonhar e não parei mais.

sábado, 13 de dezembro de 2014

A Lua e suas Fases

13/12/2014

Quando escondida sob um véu
De mistério e de desejo,
Olhando para esse céu
Com as estrelas a brilhar,
Só posso aproveitar o ensejo
Para os seus olhos procurar.

Mas os seus olhos, a sua forma
De deusa, de ser divinal,
Envoltos por um arco luminoso,
Tudo fica mais precioso,
E invisível ao olhar mortal.

Depois começa a se mostrar,
Passo a passo, mais e mais;
E a visão do seu brilho fugaz
Força quem a vê a suspirar.

Até que se mostra por completo,
E perante tamanha luz,
De sujeito passo a objeto
E seu brilho ofuscante me conduz
À terra do sonho desperto.

Quando se cansa de brilhar,
Volta a buscar o véu,
Dá chance aos outros seres do céu
E seu brilho faz minguar
Só para o ciclo recomeçar.

Mas sua beleza está em cada passo
De suas metamorfoses infindas;
Em cada contorno, em cada pedaço...
A Lua e suas faces são todas lindas!

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Tempo

05/12/2014

O tempo passa.
Mas como pode passar o tempo,
Se a cada novo momento
Há um momento novo?
O tempo nasce e morre
A cada instante;
Desaparece agora,
Para no instante seguinte
Reaparecer novamente.
Reformulado, modificado, novo.
Outro.

O tempo muda como o resto,
E tudo muda com o tempo.
É um astro-mãe,
Uma condição para a existência,
Uma essência auto-evidente.

Tempo,
Muda os laços do meu destino,
Me cria novo, me mata velho,
Me inventa menino.

Tempo,
Me abraça com seu vento,
Me beija com seu sol,
Me faz o seu invento.