terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Fração

27/01/2015

Tenho meus momentos de isolamento,
de querer me afastar, para me unir comigo mesmo.
Passo dias só lendo e escrevendo.
Meu contato com pessoas se resume ao obrigatório,
às atividades diárias que temos que fazer,
às interações necessárias.

Às vezes até saio.
Mas fico sentado no meu canto.
Converso o mínimo possível
- só quando sou forçado -
e fico com o olhar perdido, focando em
alguma árvore, vendo suas folhas dançando.
Se possível, tento ouvir o barulho das folhas.
Outras vezes vou para um canto mais recluso
(mais escuro),
onde ninguém me incomode.
Prefiro interagir com seres menos verbais,
que falem menos de trivialidades,
de dinheiro, de carro, de trabalho, de romances.
Prefiro falar das cores.
Dos sons do mundo vivo (de verdade).
Da beleza do mundo morto (de mentira).
Quando fico um tempo olhando uma árvore,
passando minha mão em seu tronco, em suas folhas,
acham que enlouqueci.
Devo ser louco, mesmo, porque esse "mundo humano"
me parece mais fantasioso que meus sonhos.
A verdade está nas nuvens.
E na terra que nutre as plantas.
Na água do rio que deságua no mar.
E no fogo, que mata, morre e transforma.

Nunca entendem quando fico olhando a Lua.
Sou fascinado por sua beleza.
Suas transformações me encantam.
Suas fases me relembram a natureza das coisas.
A natureza mutável das coisas.
E tem gente que diz que a Lua não tem vida;
que sua luz não é sua.
Ora, quanta ignorância.
A luz é tanto dela quanto nossa vida é nossa.
E garanto que a Lua tem mais vida que muita gente.
Quando converso com a Lua, me chamam de louco.
Quando ela responde, não conto a ninguém.
Eu queria ser parte daquele brilho
que a Lua cheia deixa no mar.
Morrer quando a Lua se fosse,
pois sem ela o mundo é só metade,
assim como eu.

Sou metade. Só metade.
Porque ser completo é difícil demais.
E quanto mais vivo no "mundo humano",
mais essa metade diminui.
Sou um terço. Só um terço.

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