domingo, 27 de setembro de 2015

Razão e Sensibilidade

26/09/2015

Todo dia que chego nas barcas
ouço o ranger melancólico
dos metais se atritando.
Seus riscos, seus gritos, suas marcas
da vida morta que vão levando.

A plataforma balançando
com o balanço do mar
é um choro, um gemido de tristeza
do que os seres não-vivos não podem sonhar,
mas veem estampado na natureza humana.

Eu, cá do meu lado,
encabulado que sou,
choro calado, sem lágrimas,
sem dar nenhum show de emoções,
mas por dentro sou
um milhão de cebolas cortadas,
olhos inundados, gargantas caladas,
carnes sangradas.

No frio matinal de Niterói,
pessoas agasalhadas do meu lado.
E no passeio, todo mundo deitado
em papelão; homens, mulheres, um cão
e seu vestígio de humanidade.
Camuflo minha sensibilidade
por questões de sobrevivência,
mas se ouço minha consciência,
sinto logo que meu peito dói.

Todo dia que chego nas barcas
me junto aos metais que se atritam
na plataforma. Meu rosto carrega as marcas
dos vestígios que nos indicam:
temos muitas razões para chorar.

domingo, 13 de setembro de 2015

Serata Balística

11/09/2015

Sentado sob um céu nublado
vendo as ruínas de um clichê.
O vidro escuro é um espelho
de miragens de um andarilho iludido.
As brisas de um maremoto;
o mundo de um coração partido.

A boa e velha melancolia:
o que seria de nós sem ela?
De mim eu não sei o que seria.
Um calor escaldante por dentro
e um frio cortante por fora:
nada vai ser como foi
a partir de agora!
O vento de um céu sem Lua
é o beijo de um vampiro.
Sangue caído por um brilho de outrora,
por um tempo que nunca foi;
por passos descalços
e pegadas no escuro.
Não acredito no passado.
Tampouco no futuro.

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Reflexo de Fada

02/09/2015

Há muito que não vejo mais fadas.
Mal me reconheço mais;
nesse mundo bruto, atroz,
sem seu belo brilho que me apraz,
minhas palavras estão todas contadas.

Tardo em encontrar minha paz.
Sigo um brilho difuso, confuso,
sem olhar a frente ou atrás,
mas seguindo a calmaria e a tormenta
que o mar ondulante me traz.

Procuro em todo canto,
embaixo da pedra,
no fundo do espelho,
em cada contratempo,
no meu contracanto.

Espelho, espelho, espelho,
induz meu reflexo,
conduz meu desejo.
Reflete meu corpo e me reluz.
Me conduz às nuvens; afinal,
existe alguém mais sonhador que eu?

Gnomos, duendes, fadas,
apareçam na luz do dia,
para barrar minha melancolia,
pois quero brilho forte
mesmo de mente aberta.
Vocês são feitos de mágica e palavras;
eu sou todo poesia.