domingo, 17 de maio de 2015

Nada me (as)Falta

17/05/2015

Por aqui anda tudo
com as pernas do outro.
Fala tudo com as palavras do outro.
Vê tudo com os olhos do outro.
Aqui é tudo diferente.
Na praia não tem contemplação.
É quase um concurso, discurso do corpo, competição,
mas ninguém para para ouvir as ondas.
Ficam lá, monologando, tadinhas.
É duro não ser escutada.

Aqui não ganho abraços diários
e carinhos singelos.
Aquele beijo no rosto de amor que não se mede.
Os encontros nas terças,
os sorrisos das quartas.
Nem o desespero praiano dos domingos.
Aqui nem sou praieiro, mas sou marinheiro só.

Às vezes fico curioso de coisa besta
só pra ter o que perguntar.
Porque saudade é um bicho que ruge,
mas não fala.
Às vezes não sei falar direito,
mas aí já não é novidade;
só tenho que achar um coqueiral
com vento e salitre pra me acolher.
Às vezes sinto falta das festas chatas
que só ia por causa das pessoas amadas.
O tempo não para, mas os fatos também não.

Sou exagerado, mas faz parte do fogo
(que não me falta)
e do ar que vai levando meus pensamentos.
Tenho muitos sonhos e pouco tempo.
E eles vêm assim, de mansinho,
e não se importam muito em saber se estou dormindo.
Eles têm seu próprio tempo.
(e sua própria voz)
Sabe aquela voz potente?
Chega assusta.

Lembro quando a Lua parecia me saudar, de noite.
E eu, educado, saudava de volta.
Ela vinha, majestosa,
espalhar seu amarelo sobre o céu;
uma poesia só dela.
Eu tinha que parar.
Quando meu caminhar era interrompido por ela,
felicidade tamanha...!
Era interrompido sem ser interrompido.
Parava de andar para flutuar.
E quando olhava pro mar?
Tem como não querer se afogar?
Era cedo, o início do novo turno, da nova voz.
Um início tão belo...
Daqui a vejo às vezes.
(às vezes não)
Tem prédio, nuvem, chuva...
O que será do meu coração
se a Lua se esconde na poluição?

Mas vamos lá, já vi o nascer do Sol
(o pôr também)
e confesso que foi magnífico.
Tem umas visões que não se repetem;
umas companhias também.
Outras coisas se repetem até demais,
e essa miséria toda dá uma tristeza sem fim.
Não adianta pedir piedade,
que pedidos não ajudam muito.
Ainda sou um felizardo:
tenho fome de vida de verdade.
De velejar.
Quero velejar.
Mas só depois da tormenta.
Mês que vem vem a calmaria,
porque não pode sempre ser aflição.

4 comentários:

  1. lembrei do dia que pediu pra parar o carro e vermos a lua.. bonita conversa!
    em julho os beijos e abraços estarão pelas ruas de Salvador.. Rio Vermelho!

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