domingo, 27 de setembro de 2015

Razão e Sensibilidade

26/09/2015

Todo dia que chego nas barcas
ouço o ranger melancólico
dos metais se atritando.
Seus riscos, seus gritos, suas marcas
da vida morta que vão levando.

A plataforma balançando
com o balanço do mar
é um choro, um gemido de tristeza
do que os seres não-vivos não podem sonhar,
mas veem estampado na natureza humana.

Eu, cá do meu lado,
encabulado que sou,
choro calado, sem lágrimas,
sem dar nenhum show de emoções,
mas por dentro sou
um milhão de cebolas cortadas,
olhos inundados, gargantas caladas,
carnes sangradas.

No frio matinal de Niterói,
pessoas agasalhadas do meu lado.
E no passeio, todo mundo deitado
em papelão; homens, mulheres, um cão
e seu vestígio de humanidade.
Camuflo minha sensibilidade
por questões de sobrevivência,
mas se ouço minha consciência,
sinto logo que meu peito dói.

Todo dia que chego nas barcas
me junto aos metais que se atritam
na plataforma. Meu rosto carrega as marcas
dos vestígios que nos indicam:
temos muitas razões para chorar.

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