terça-feira, 28 de outubro de 2014

Uma Tarde

27/10/2014

Numa tarde qualquer,
Sem nenhuma especificidade,
Seguia meu destino a pé,
Sem tristeza ou felicidade,
Quando de súbito eu vi:
O mundo que eu enxergava
Não era o que me rodeava;
Do meu rumo me esqueci.

Não sabia aonde ia,
Mas lembrei de onde vinha.
E como dedo sem mão,
Sentido sem direção,
Estava perdido.
Num espaço entre dois pontos
Que não se conheciam.

Quando se está sem rumo,
Não há sentido em se encontrar.
Não há significado.
Saber onde está,
Mas não saber aonde ir;
Saber aonde ir,
Mas não saber onde está:
Onde está a conexão?

Cada coisa tem sua função
- E seu caminho.
A água mata a sede,
O fogo aquece,
O Sol ilumina,
A lua se esquece.
O que falar da vida?

Esqueci de onde vinha
- Já soube algum dia? -
Não sabia aonde ia:
Era essa minha sina.
A sina da existência.
Existência refletida,
Refratada,
Raciocinada,
Insensata,
Sem sentido.
Uma flecha sem arco.

Teria a vida existência real?
Teria a existência real sentido?
Que equações poderia usar
Para responder essas questões?

A infinitude de minhas perguntas
Inundaram minha cabeça
E paralizaram meu corpo.
Não mais andava.
Não lembrava de onde vinha,
Não sabia aonde ia,
Não sabia por que eu era.
Mas quem eu era?

Eu era eu.
Mas poderia não ser.
Eu era.
Mas poderia não ser.
O que me definia como eu?
Minha mudança eterna
Permanecia.
Mas como ainda poderia ser eu?
O rio ainda era ele
Porque ficava no mesmo lugar.
O fogo ainda aquecia,
A água ainda matava a sede.
A chuva ainda caía.
Em mim, nada se mantinha.
Meu corpo não era o mesmo.
Tampouco minhas ações,
Meus átomos,
Meus pensamentos,
Meus sentimentos.
Como ainda podia ser eu?

Seria eu um aglomerado
De matéria, delimitado
Por um invólucro
Que chamo meu corpo?
Um invólucro mutável,
Inconstante,
Cujos limites e conteúdo
Mudavam?
Um saco plástico
Feito com matéria viva
Repleto de abstrações concretas...?

Poderiam minhas questões
Ser respondidas?
Chegaria a um resultado,
Uma solução ontológica?
Deveria suspender o juízo?
Ou me inquietar ad æternum?

Tornei a caminhar.
Encontraria meu rumo
Mesmo se tivesse que inventá-lo
- Poderia inventar,
Como poderia tudo ser minha invenção.
Caminhava e olhava o mundo
- E o mundo me olhava de volta.
Começava a me dissolver,
Dissociar minhas partes.
"Minhas".
Minhas dúvidas não poderiam me parar.

Bem-aventurado aquele
Que tem mais dúvidas
Do que certezas. 

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