As linhas de minha mão
sexta-feira, 27 de junho de 2025
Maremoto
sexta-feira, 4 de outubro de 2024
Sangue e Chamas
sangram, transbordam minha pele.
Meu peito, essa pavorosa prisão,
pulsa com o brilho que em vão me fere.
Que se encerre a distração!
Meu corpo, um sufoco; um lastro
de angústia, astúcia, sofreguidão.
O sangue me ferve, mas o corpo é vasto;
tem muito espaço para cada sensação.
As mãos no pescoço, uma convulsão.
Os punhos serram quando os dentes rangem.
As línguas ácidas me consomem,
e os pensamentos, como intromissão,
me leem. Seja qual for a conclusão,
os vestígios de paciência somem.
Ora, já chega, pois estou cansado.
O risco de sumir
só escapa na explosão.
Chega de ser fogo.
Agora sou vulcão.
E democracia, meu amigo,
segunda-feira, 14 de agosto de 2023
Next time, fuckers
(14/08/2023)
Me confundiam com incendiário.
Mas minhas faíscas só serviam ao sangue.
Borbulhado,
meu corpo permanecia perfurado
pelo ferro em minhas veias.
A cadeia de sulfato
me inundava a glote.
e eu chovia por dentro.
Me encantavam as cinzas.
Os veios de minhas entranhas
sucumbiam ao deslizamento litiar.
Os ventos assassinavam a métrica
desértica de minha geografia ocular.
E então veio o verbo.
No surto, o resquício do sumiço
volta a se encontrar.
O destino, sovino,
encarna as fibras do corrediço.
E a carne começa a oxidar.
Carbonizado,
o verso se converte em fuligem.
A virtude, em vertigem.
E o vasto vazio começa a desmoronar.
O gosto lúgubre, o olfato incerto
e o terror incólume:
vestígios de precessão no incêndio.
Não sou filho do amoníaco,
mas talvez seja do arsênico.
quarta-feira, 30 de novembro de 2022
Arma-me
30/11/2022
Saca-me
Sarra o torso torpe
Torce
Agarra o cabo
Carrega o fardo
Move
Explora a sorte
O calor contaminado
Juízo alado
Pequena morte
Arfa-me
Suga-me o ar
O sangue
O jorro
O fogo-a-jato
O laço
Apaga-me
Afaga-me
Afoga-me
Em seu carinho
Roda mundo
Rodamoinho
Sem solução
No vasto mundo
Soluço
Inundado
Afogado
Resfolegado
Boiando no mar
Chegando a hora de zarpar
Sem anos de solidão
sábado, 3 de setembro de 2022
Amiúde
03/09/2022
Suspiros de noite e de dia.
Olhos abertos, despertos na fantasia
de sentir e ser.
Por dentro, a chama incessante
que só faz crescer.
Por fora, montanhas galgáveis,
cavalgáveis, para subir e descer.
Um rio escorrendo apresenta o caminho.
Nadar e ser embebido, dissolvido
na cachoeira do prazer.
Perder-se no escuro e perder os sentidos,
ouvindo só o que a alma tem a dizer.
Efervescer o ser e sublimar.
Dormir desperto e sonhar
com o mundo caindo de suas beiras.
E quando o corpo todo falhar,
deixar a mente subir às estrelas.
quarta-feira, 20 de julho de 2022
Sono sem Sonho
20/07/2022
A força do dia a dia
camufla as cores do mundo.
Sentado em meu canto sozinho,
cansado, observo tudo
com meu olhar daltônico.
Um sono sem sonho
é como estar acordado.
Os olhos ardidos,
a boca seca,
a faca cega.
Sossega esse peito, menino.
Colírio.
Lavar a alma com lágrimas
e terra.
Pé no chão, corpo nas nuvens.
Delírio.
Nós que desenrolam(os) em fios
cortantes.
Mente amolada,
faca.
Sede de fazer o sangue ferver.
Já posso voltar a sonhar,
mas sem esquecer de viver.
quarta-feira, 27 de abril de 2022
Nanopotente
27/04/2022
Em meus sonhos posso voar.
Que alegria seria
se em realidade ou fantasia
fizesse o que posso, ao sonhar.
Mas meu corpo vive no mundo real;
sem asas,
sem forças,
sem mãos a me levantar.
Minipotente.
Descrente no fututo
aonde vamos chegar.
Enquanto o sertão não virar mar,
um deserto cinzento é meu chão.
Caminho, sob o sol escaldante,
mirando uma miragem
deveras distante,
mas sem sombras de satisfação.
Esta ilha me devora.
Sendo o futuro incerto,
procuro me manter desperto
à procura de uma aurora.
... mas que demora!
Agora, só resta olhar à frente
- micropotente -
porque atrás vem gente
e não há tempo a perder.
Sou o que sou,
mas quem sou eu de fato?
Sem digitais, sem tato,
esqueço o que sei de mim.
Afinal, o que tenho a dizer?
Nesse mundo não sei voar,
e, enquanto não puder sonhar,
só me resta viver.